Primeiro, sempre vale esclarecer: não é todo mundo que sente gosto e cheiro de terra escapando pelas torneiras de Porto Alegre e da Região Metropolitana.
Embora seja um fenômeno recorrente no verão, ele afeta basicamente os moradores da zona norte da Capital, de uma parte da Zona Leste, de uma fatia da região central e também de municípios como Canoas, Cachoeirinha e Alvorada. São regiões abastecidas pela água captada perto da foz do Rio Gravataí.
Quer dizer: o problema é o Rio Gravataí – na verdade, o problema somos nós, que poluímos o Rio Gravataí, mas logo falarei sobre isso. Quem mora na zona sul de Porto Alegre, por exemplo, longe do Gravataí, não costuma conviver com odor e sabor de terra, embora possa sentir algum cheiro de cloro. Porque o cloro, no verão, é usado em quantidade ainda maior no tratamento da água.
É no verão que as famosas algas se multiplicam – e são elas as responsáveis pelo cheiro ruim. Quanto mais matéria orgânica tem um rio, ou seja, quanto mais contaminado e poluído ele está, mais facilidade as algas têm para se desenvolver. E nenhum rio da bacia do Guaíba é tão poluído quanto o Gravataí. Para resolver o problema do gosto de terra, portanto, basta tratar o esgoto que desemboca no Gravataí.
Não dá para negar que a situação tem melhorado: tanto em Porto Alegre, com o Dmae, quanto na Região Metropolitana, com a Corsan, as obras de tratamento avançam a passos largos nos últimos anos. Mas, para amenizar sensivelmente o cheiro e o gosto ruim da água, segundo técnicos ouvidos pela coluna, ainda aguardaremos pelo menos duas décadas.
Os resultados na Capital até podem ser mais rápidos, se o tratamento de água com ozônio – uma novidade no país – virar realidade nos próximos anos. Segundo o diretor-executivo do Dmae, Alexandre Garcia, outros países conseguiram neutralizar o efeito das algas com essa tecnologia, que deverá ser introduzida em Porto Alegre em 2022. Mas, num primeiro momento, ela chegará em fase de testes. Ou seja, para a população sentir mesmo as mudanças, calcula-se mais uns cinco anos pela frente.
Em resumo, não, não estamos condenados a conviver para sempre com gosto e cheiro de terra na água. Mas ainda teremos de lidar com o problema por um bom tempo.