São sempre negras as vítimas desse tipo de violência – a violência que parte da "autoridade". E a autoridade pode ser um policial, um segurança, o dono de um restaurante, não interessa. É quem exerce o poder.
Se fosse eu que estivesse no Carrefour nesta quinta-feira (19), se eu executasse um gesto estranho, ou mesmo se partisse para cima de alguém, será que teriam me espancado até a morte? Claro que não, eu sou branco. E Beto era negro. Quando alguém é negro, a postura da autoridade (que quase sempre é branca) é outra, a abordagem é outra, o olhar é outro, o modus operandi é outro, a consideração pela integridade física é outra.
Aliás, para que existe um segurança? Para lidar com tumultos, certo? É a função precípua de quem trabalha com isso. Quantos tumultos os seguranças do Carrefour já devem ter apartado? Dez? Trinta? Cem? E em quantos deles a opção foi por espancar um envolvido até a morte? É coincidência que isso tenha ocorrido justamente com um homem negro?
É evidente que não.
Os negros sabem que o olhar sobre eles é outro. E os brancos sabem disso também. Os brancos enxergam isso, presenciam isso, inclusive fazem isso. E o que podem fazer contra isso? A primeira coisa, a meu ver, é reconhecer que Beto foi assassinado porque é negro. E que, se essa é uma realidade que nós, brancos, criamos, é mais do que obrigação lutar contra ela.