Depois de seis meses com escolas fechadas, prefeitos do Estado inteiro adotam um discurso populista para esconder a falta de planejamento e suas conveniências eleitorais. Não são todos, mas boa parte joga para a torcida ao rejeitar qualquer previsão de volta às aulas sob a alegação de que "as crianças correm perigo".
Não pode ser assim. Ninguém aqui defende que os pais sejam obrigados a levar seus filhos à escola – é compreensível que famílias e professores estejam com medo. Mas esse é um bom motivo para as prefeituras se mexerem, apresentarem alternativas, soluções, cronogramas, e não para fugirem da própria obrigação.
São poucos os alunos que irão às escolas? Tudo bem, cabe aos governos fazer esse levantamento e, dentro do possível, oferecer condições para que essas crianças estudem em casa. Mas há também uma fatia de estudantes que precisa retornar ao colégio. Alguns porque, em casa, nem sequer têm almoço direito, que dirá computador. Outros porque seus pais precisam deixá-los em lugar seguro para poder trabalhar.
São inúmeros os relatos de mães que, há quase meio ano, gastam dinheiro deixando os filhos com cuidadores – em geral, são casas de família que recebem grupos de crianças. Os protocolos de higiene e distanciamento, nessas casas, são improvisados. Não há qualquer fiscalização do poder público. Esse raciocínio, portanto, de que escolas fechadas significam mais segurança é uma falácia.
Os prefeitos pressionaram para abrir comércio. Pressionaram para abrir restaurante. Pressionaram para abrir construção civil. Por que a educação seria menos essencial do que tudo isso? É preciso cautela, claro, é preciso avançar aos poucos. Mas os gestores municipais que abrem mão de planejamento, definitivamente, não estão protegendo a população. Estão prejudicando.