Campeã mundial de muay thai e pan-americana de kickboxing, ela agora se prepara para enfrentar outro violento adversário. Mara Schorn é técnica de enfermagem na Santa Casa de Porto Alegre: além de participar de uma série de treinamentos para atender vítimas do coronavírus, ela já está de sobreaviso para entrar no ringue.
– Se me chamarem, eu deixo a Oncologia, que é o meu setor, para auxiliar na covid-19. A gente recebe cursos, nos preparamos muito, inclusive psicologicamente.
Aos 36 anos, aliando enfermagem e artes marciais desde os 24, Mara já se acostumou ao dia a dia intenso. Depois de duas horas de agachamentos, polichinelos, saltos e socos, ela troca o protetor bucal pela máscara, veste o jaleco e bota os tênis brancos. As luvas mudam de modelo, mas seguem nas mãos: é hora do plantão, que começa às 19h e vai até as 7h.
– De lutadora, viro profissional da saúde. Que não deixa de ser uma lutadora, né?
Faz sentido. Noite sim, noite não, Mara pega um ônibus no bairro Estância velha, em Canoas, vai até a estação de trem, desce na rodoviária da Capital e caminha até o Hospital Santa Rita. Rotina puxada não é problema para ela, que na infância ajudava os pais na lavoura de soja, no interior de Santa Rosa.
Aos 18, foi trabalhar em um asilo em Canoas e, na mesma época, começou as aulas de muay thai para emagrecer. Cinco meses depois, veio a primeira luta. Seria a largada para 14 disputas profissionais – Mara venceu 12. Para o campeonato mundial, em 2018, na Tailândia, não conseguiu patrocínio: parcelou as passagens e fez rifa para bancar a hospedagem.
– Não foi nada fácil, mas hoje olho para esse cinturão, que é a coisa mais linda do mundo, e sei que valeu a pena – diz ela.
Isolada em casa, Mara improvisa os treinos com pesos e cordas já pensando no mundial do que ano que vem. Mas não é o muay thai o que mais preocupa a lutadora:
– O que tem me tirado o sono é o coronavírus. Vamos lutar até o fim, vamos vencer. Agora é guerra.
Com Rossana Ruschel