O prédio fica pronto, chegam os moradores, mas os cachorros são despejados. A nova ponte é erguida, famílias são realocadas, mas os cães ficam para trás. O descaso com animais esquecidos em meio a construções, situação frequente em Porto Alegre – e na maioria das cidades –, pode perder força com um decreto recém-publicado pelo prefeito Marchezan.
O texto obriga o empreendedor, responsável pela obra, a apresentar um plano para transferência, tratamento e adoção dos bichos que ficam sem dono no local. Esse relatório, que precisa ser assinado por um veterinário, agora faz parte do rol de documentos necessários para obter o licenciamento ambiental da obra.
– Queremos evitar o que ocorreu na Ilha Grande dos Marinheiros, com as obras da nova ponte do Guaíba, e na Vila Nazaré, com a ampliação do aeroporto – diz Marchezan.
Nos dois casos, conforme as famílias são transferidas, a quantidade de animais que fica é impressionante. Só na Ilha Grande dos Marinheiros, a prefeitura já calcula mais de 300. Boa parte são cachorros ou gatos que nunca tiveram residência fixa, mas eram alimentados por moradores – e, não há dúvida, criaram vínculo com a região.
Segundo a secretária adjunta do Meio Ambiente, Viviane Diogo, o poder público tem dificuldade para absorver toda a demanda:
– A gente faz o que pode, mas é preciso dividir responsabilidades. O que antes dependia da sensibilidade do empreendedor agora é regra.
Consultada pela coluna, a presidente da Associação Rio-grandense de Proteção aos Animais (Arpa), Eliane Tavares, elogiou a iniciativa – ao menos na teoria, segundo ela, o novo decreto "tira a responsabilidade do colo dos protetores", frequentemente acionados para ajudar a prefeitura.
– Esse é um problema sério, e a nova medida parece um avanço. Vamos ver na prática – diz Eliane.
Com Rossana Ruschel