O intuito é mostrar beleza e tristeza: obras que um dia estiveram ao alcance de todos, em praças e ruas de Porto Alegre, agora estão presas em um museu. Porque a população não soube lidar com elas.
Todos os 28 bustos, estátuas, placas e painéis da exposição Monumentos & Arte: a História da Cidade em Risco, inaugurada ontem no Memorial do Rio Grande do Sul, estão quebrados, decepados, amassados ou foram recuperados depois da investida de ladrões.
— Por que obras tão lindas, com enorme valor artístico, não podem estar entre nós? É essa reflexão que queremos propor — diz José Francisco Alves, coordenador do Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, que promove a mostra.
Doutor em História da Arte e autor do livro A Escultura Pública de Porto Alegre, José Francisco pesquisa monumentos ao ar livre há 25 anos. Garante que "não se tem notícia de outra cidade no mundo, em tempos de paz, que tenha perdido mais monumentos do que Porto Alegre". No mínimo um terço das nossas 300 obras sofreu perda total. As que estão expostas no Memorial, pelo menos, sobreviveram.
É o caso do busto do escritor Apolinário Porto Alegre, apontado como um dos mais belos do Brasil. Esculpido por Alfred Adloff, o monumento em bronze foi inaugurado em 1927 e ficava na Praça Argentina — aquela ao lado da Santa Casa. Tentaram furtá-lo em 2003, mas, como pesa 300 quilos, o que conseguiram foi arrancar suas mãos.
— Os furtos nem são para o comércio ilegal de arte. Obras maravilhosas viram torneiras e cano de bronze — lamenta José Francisco, lembrando que, além da estupidez do vandalismo, há também um problema econômico e a epidemia do crack.
As visitações estão abertas no Memorial do Rio Grande do Sul até 29 de setembro: de terças a sábados, das 10h às 18h, e aos domingos e feriados, das 13h às 17h.
Com Rossana Ruschel