– Se parlamentar é cagão, o prefeito é um bunda-mole.
Foi com essa elegante frase que o ex-líder do governo, vereador Clàudio Janta (SD), abriu seu pronunciamento na quarta-feira (22) na tribuna da Câmara. A intenção era aprovar o requerimento encaminhado pelo colega Aldacir Oliboni (PT), que pedia a convocação de Nelson Marchezan para um interrogatório no plenário.
– E é bunda-mole porque mentiu – prosseguiu Janta. – No dia 11, ele deveria estar em Barcelona, porque foi isso que esta Casa autorizou. Mas não, ele estava em São Paulo fazendo circo.
O vereador se referia à participação do prefeito no Congresso Nacional do MBL. Em mais um arroubo de inconsequência, Marchezan disse no evento que "parlamentar é cagão", sugeriu que líderes da esquerda gaúcha são "erva daninha", reprovou a atuação dos professores municipais, atacou sindicatos, espinafrou o PT etc, etc, etc.
– Se não vier, o cagão é ele! – gritou de sua cadeira um também elegante João Bosco Vaz (PDT), enquanto Janta ainda discursava.
A relação do prefeito com a Câmara, que já era péssima, afunda agora em uma crise perigosa. Não há mais discrição alguma entre os vereadores para debater uma medida extremada: impeachment. Pelo menos três parlamentares já têm minutas prontas para embasar pedidos de afastamento – a mais consistente, até agora, acusa Marchezan de transferir recursos para empresas estatais sem autorização do Legislativo.
Em condições normais, isso seria uma bobagem: todo prefeito faz isso. A questão é que nunca, na história recente de Porto Alegre, um prefeito se desgastou tanto com a Câmara Municipal.
Se houver concretude no fato, o ambiente político caminha para isso (impeachment)
THIAGO DUARTE
Vereador do DEM
– É verdade que tem gente estudando situações de possível crime de responsabilidade – diz o vereador Thiago Duarte (DEM). – E, se houver concretude no fato, o ambiente político caminha para isso.
Por enquanto, não há concretude alguma. Derrubar Marchezan por ter botado dinheiro, por exemplo, na Carris – e assim ter tentado salvar a empresa da falência – seria uma aberração democrática. Mas interrogar o prefeito na Câmara, depois daquela patuscada em São Paulo, agora é uma obsessão para um grupo considerável de vereadores.
Na quarta-feira, a minguada base aliada precisou retirar o quórum para a convocação não ser aprovada. A votação deve ocorrer na semana que vem.
– Tchau, cagão – despediu-se sorrindo um vereador, no fim da sessão.
– Tchau, cagão – devolveu o educado colega.