Depois que Heloisa instalou um banquinho simpático em frente à loja, daqueles em estilo retrô com espaço para três pessoas, o bar da frente fez a mesma coisa, um restaurante copiou, outro bar aproveitou o embalo e, em poucos meses, a Rua Castro Alves tinha calçadas cravejadas de bancos entre a Ramiro Barcelos e a Miguel Tostes.
– Hoje tudo é WhatsApp, Instagram, Facebook. Eu queria resgatar o diálogo e o relacionamento entre as pessoas do bairro, trazer para cá aquela convivência gostosa do Interior – conta Heloisa Dieterich, 65 anos, proprietária da loja de roupas Colette Lyon.
Deu certo: aquele trecho virou a Rua dos Bancos. Velhinhos se sentavam, mamães amamentavam, famílias conversavam, e Heloisa começou a fotografar pessoas que se abancavam ali – pensou até em fazer uma exposição de fotos na vitrine da loja.
Mas roubaram o banco.
Foi na madrugada de sexta passada. A comunidade se consternou. Heloisa já havia amarrado o banco a um poste de luz, com uma corrente grossa. Não pensou que alguém pudesse rompê-la, mas vinha percebendo um ambiente propício para algum larápio aparecer:
– Faz dois meses que pedi à prefeitura para podarem essa árvore, porque os galhos tapam totalmente a iluminação do poste. Fica um breu à noite, escuro demais.
Prometeram mandar um perito, mas ninguém apareceu. Agora, no lugar do assento, há um cartaz de papel fixado à árvore: "Roubaram o banco. Dos idosos. Das grávidas. Das crianças". A sorte é que Heloisa, insistente, já se prepara para encomendar um novo. E o plano agora é chumbá-lo no piso da calçada, como já fizeram os bares que reproduziram sua ideia.
Paciência. Para levar um pouquinho do Interior para a nossa capital, só com algumas adaptações.