Estou arrependido, eu errei.
Achei grosseiro e chamei de cavalo, na segunda-feira (28), o autor do cartaz que usou a imagem de uma anta para expulsar motoristas que teimavam em estacionar em sua propriedade. Pois o sujeito me ligou. E não se trata de um homem xucro, pelo contrário: o empresário Carlos Bolcato, dono do escritório situado ao lado de uma agência do Banco do Brasil na Avenida Protásio Alves, é um homem cansado. Era, na verdade.
– Minha vida mudou depois da anta – garante ele. – Todos os dias, mas todos os dias mesmo, e fazia mais de mil e trezentos dias, porque depois eu contei os dias, a gente chegava e tinha o carro de alguém que foi no banco, que foi ali na frente, que estava com pressa, que não sei o que lá, e isso virou um problema para nós.
Carlos me enviou a imagem abaixo, apontando todas as providências que havia tomado antes de apelar para o cartaz da anta. Pintou o cordão da calçada, pôs um aviso na cortina de ferro, marcou o piso em frente à loja, inscreveu "proibido estacionar" por todo lado, depois comprou "o maior cone que existe, desses de 60 centímetros de largura, um trambolho gigante para bloquear a passagem dos carros", mas todo dia era o mesmo drama.
– O nosso furgão precisava ser carregado, mas chegava aqui e tinha carro nas vagas. Meus funcionários não conseguiam estacionar. E, se a gente pedia para um motorista sair, o cara nem baixava o vidro, dizia "tá, já vou embora" e ainda olhava com aquela cara de "que homem chato esse aí". Fica uma situação constrangedora.
Até que um estagiário, há uns dois meses, teve a ideia da anta. O chefe do setor foi contra, achou que seria péssimo para a imagem da empresa, mas Carlos entendeu que era hora de uma medida mais drástica. Foi Carlos mesmo quem escreveu o texto. "Vc não é uma anta. Certo?", diz o primeiro cartaz, com a foto do bicho feioso, enquanto o segundo lembra que aquela propriedade é particular, que é proibido estacionar, que o infrator pode ser multado.
– Não tivemos mais problemas. As pessoas chegam ali, avistam a anta e começam a dar ré – comemora o empresário.
Eu aqui, que o chamei de cavalo, agora peço perdão. Claro que a placa não é um exemplo de elegância, mas, se é essa a linguagem que o povo entende, fazer o quê? Que continue lá, espantando as antas.