Há um mês e meio, escrevi o seguinte: "Se continuar achando que pode governar sozinho, o prefeito não vai governar. Não vai passar na Câmara um único projetinho, quanto mais esses projetões antipáticos que provocam urticária em qualquer pessoa que viva de votos, como é o caso dos vereadores".
Foi uma crítica dura, necessária há 40 dias, mas felizmente não cabe mais. Marchezan se reviu. E o divisor de águas foi aquele vídeo em que o prefeito, irritado, recorrendo a adjetivos como "mentiroso" e "demagógico", apontava uma suposta "falta de coragem" dos parlamentares por terem mantido a reposição automática da inflação ao salário dos servidores. Os vereadores se enfureceram.
– Demos um ultimato e, depois dali, foi da água para o vinho. A gente pedia uma audiência com ele e nunca mais tinha retorno. Agora, se eu quiser falar toda semana, o cara me recebe com um sorriso – diz um vereador da base aliada.
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Esse vereador estava entre os que já cogitavam pular para a oposição. Natural: só vale a pena defender um governo – e enfrentar o desgaste de propostas impopulares desse governo – se houver algo em troca. Até o início de junho, Marchezan vetava projetos de vereadores e nem dava satisfação. Hoje, telefona para o autor do projeto, explica por que terá de vetá-lo e sugere que a mesma proposta seja protocolada de novo, mais tarde, com uma mudança ou outra.
O caso do Fundo Municipal de Segurança Pública, idealizado pelo presidente da Câmara, Cássio Trogildo (PTB), é um bom exemplo. Depois de aprovado no parlamento, Marchezan decidiu vetar o projeto por "vício de iniciativa". Quer dizer: só o Executivo poderia apresentar uma proposta assim, que versa sobre as finanças do município – não um vereador.
Quando Marchezan foi viajar para a França, no início do mês, o vice Gustavo Paim pediu licença por dois dias. Trogildo assumiu o governo e, como prefeito interino, pôde ele mesmo enviar à Câmara o projeto que criava o fundo. Afagos assim não representam nada além de fazer política – o que é imprescindível para um governo andar.
Aliás, Paim tem feito política desde que assumiu a articulação com a Câmara no lugar do ex-secretário Kevin Krieger. Marchezan deu autonomia ao vice-prefeito, coisa que Krieger queixava-se por não ter.
– O prefeito não tinha experiência no Executivo, não entendia como funcionava. Acostumou-se a contestar e a gritar, coisas que funcionam bem quando se é deputado – analisa um assessor da prefeitura.
A nova postura só é ruim para quem torce contra o governo. Por mim, que tenha vida longa esse Marchezan Paz e Amor.