Você deve lembrar, foi em abril do ano passado. Com a habilitação suspensa após 52 multas, o empresário Thiago Brentano foi a uma festa, bebeu cerveja, pegou seu Audi, furou o sinal vermelho na Rua 24 de Outubro e chocou-se contra um táxi: esse táxi bateu em um carro estacionado, que levantou voo e atingiu Rafaela Perrone, 26 anos, e Thomaz Coletti, 27, um casal de namorados que passeava com o cachorro dela no Parcão.
Thomaz levou mais de 50 pontos no rosto, quebrou a mandíbula e exibe até hoje um osso saltado no ombro. Rafaela teve traumatismo cranioencefálico, passou cinco dias na UTI, fraturou patela, órbita, vértebra, nariz – e até hoje sofre com crises de labirintite. Não consegue mais correr devido a uma lesão que quase lhe tirou o movimento das pernas.
– Hoje está tudo bem. Mas, enquanto as pessoas têm medo de sair à noite por causa de assaltos, eu tenho medo por causa de acidentes – conta ela, que às vezes chora quando há carros demais na rua.
Thiago Brentano, que responde ao processo em liberdade, está longe de ser julgado. O Ministério Público o denunciou por tripla tentativa de homicídio – seria tripla porque, conforme o MP, ele também pôs em risco a vida de um rapaz que vinha na carona. Mas a defesa de Brentano tem apresentado recursos: pede que o acusado seja julgado por lesão corporal praticada no trânsito. Neste caso, a pena seria bem menor. Nem prisão haveria.
– As pessoas querem imputar uma acusação mais grave, de um crime que não existiu, porque consideram a legislação problemática. É uma forma brasileira de lidar com a lei, sempre se dá um jeitinho – avalia Jader Marques, advogado de Thiago Brentano.
Segundo Jader, ao contrário do que diz o MP, seu cliente não estava praticando racha na hora do acidente. Já Rafaela Perrone, atropelada com o namorado naquela madrugada de sábado, analisa tudo por outro ângulo:
– O que me revolta é o quanto as pessoas desprezam as regras e o direito dos outros. Poxa, não pode correr no meio das cidades. Não pode correr em frente a um parque. Não pode beber e depois dirigir. Não pode dirigir com a carteira suspensa. O ser humano é egoísta. E as coisas só estão assim porque, em geral, não tem punição.