O borracheiro Clifford Guerra Castro, 49 anos, tinha pena das "tartarugas que comem esgoto". Também lamentava ver tanto peixe nadando no Arroio Dilúvio – todos contaminados por uma penca de bactérias – enquanto há tanta gente passando fome. Decidiu agir.
Desde novembro, ele vai ao Dilúvio duas vezes por semana munido de cesta, balde e tarrafa. Com a cesta, recolhe as tartarugas:
– Depois levo para o Parcão e para a Redenção. Aqui no arroio, elas comem plástico e morrem. Lá, dão até pipoca e cachorro-quente.
Com a tarrafa, pesca tilápias. Enfia todas no balde e bota no carro:
– Levo para o açude do Odorico. É meu amigão, mora na Barra do Ribeiro. O Odorico distribui um monte de peixe para o pessoal da Vila Nazaré, que é pobre demais, miserável mesmo.
A esperança de Clifford é que, depois de um ano "se limpando" no açude do Odorico, os peixes possam se tornar comestíveis.
– Foi a maneira que achei de ajudar – sorri o borracheiro.
O professor de biologia Uwe Schulz, da Unisinos, especialista em ecologia dos peixes, não recomenda o consumo das tilápias nem um ano depois. Não tem problema, Clifford: só pelas tartarugas já valeu a pena.
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