Único museu público sobre a história do Rio Grande do Sul, o Julio de Castilhos se afirma como símbolo de decadência do patrimônio cultural gaúcho. Está fechado desde janeiro – e você talvez nem tenha notado, o que já é sintomático.
Sem manutenção preventiva, tratado com desleixo por sucessivos governos, o museu mais antigo do Estado acabou interditado porque qualquer chuva inundava tudo. Virou um elefante branco combalido por paredes descascadas, piso escangalhado, infiltrações e problemas elétricos.
A entrada exibe hoje um manequim de loja e uma faixa de plástico onde se lê "Brechó do Julio". Quem teve a ideia da lojinha foi a Associação de Amigos do Museu, que conta com 11 sócios bem-intencionados atrás de recursos até para trocar lâmpada, coisa que o Estado não faz.
– O brechó é uma forma de combater um descaso crônico e muito antigo – justifica o presidente da associação, Thiago Araújo.
Membro do Conselho Internacional de Museus, o professor de escultura José Francisco Alves, do Atelier Livre, diz que o anúncio do brechó na entrada "é patético, mas também profético":
– O Julio de Castilhos sempre pareceu um brechó. Tinha roupa com traça, aquelas espadas caindo na vitrine, tudo malcuidado. No fim, é o que Porto Alegre tem para oferecer na área cultural: um brechó.
José Francisco lembra que o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa também foi interditado. O Museu Antropológico, que mostraria as origens do gaúcho, segue com o acervo encaixotado. O Museu dos Direitos Humanos do Mercosul foi inaugurado em 2014 e depois sumiu. O Memorial do Rio Grande do Sul é outro que sofre com abandono.
Sobre o Museu Julio de Castilhos – situado no número 1.205 da Rua Duque de Caxias –, a Secretaria de Estado da Cultura prevê sua reabertura até a metade de abril. Por enquanto, nos resta uma visita ao Brechó do Julio.