Multar pichadores em até R$ 12 mil, implantar uma gestão privada no Mercado Público e, em casos extremos, remover moradores de rua contra a vontade deles. Eis algumas controvérsias que Nelson Marchezan pretende bancar. O prefeito da Capital foi o entrevistado da primeira edição do PG Pergunta, evento que ocorreu nesta terça-feira na sede do Grupo RBS.
A cada três meses, no PG Pergunta, vou receber uma autoridade, um especialista ou um personagem da cidade para debater os rumos de Porto Alegre. Na manhã de ontem, passei 40 minutos conversando com Marchezan diante de uma pequena plateia – que também o questionou. Abaixo, estão as inquietações deste colunista e os principais trechos das respostas do prefeito.
2017, um ano ruim
Marchezan se queixa com frequência da situação financeira, administrativa e gerencial que herdou. Desse jeito, meu receio é de que 2017 seja um ano catastrófico.
"Este é o meu primeiro ano, e vou entrar para a história como o prefeito que atrasou os salários dos servidores. Vamos colher o resultado de tudo aquilo que foi plantado nos últimos anos. Se continuar assim, a tendência é que a prefeitura entre em colapso. Mas a minha parte eu vou fazer – outra parte vai depender da Câmara dos Vereadores. O que eu sinto, e sinto dos secretários e das pessoas na rua, das entidades, das lideranças, é que será um ano de grandes oportunidades para mudar esse caminho, tomando um outro caminho para uma Porto Alegre melhor."
Na rua não pode
A população adulta de rua aumentou 75% em oito anos. Sempre fui solidário e sensível à situação dessas pessoas, mas me acostumei a ser seco, ríspido, indiferente. O descaso da prefeitura com essa gente parece estar nos abrutalhando.
"Mais do que ríspidos, a gente ficou com medo dos moradores de rua. Não é normal, não é humano as pessoas morarem na rua, então esse problema nós vamos ter que solucionar. Sabemos das questões ideológicas que envolvem isso. Aliás, vocês já deram espaço para as opiniões mais ideológicas e burras possíveis, que acham normal manter pessoas na rua, que elas têm o direito de ficar lá. Defendo o projeto que tramita na Câmara dos Deputados: algumas pessoas chegaram a tal nível de dependência das drogas que, hoje, não têm capacidade mental de decidir seu futuro. São uma ameaça a si próprias e aos outros. Deveriam ser recolhidas para tratamento, mesmo contra a vontade."
Mercado Público-Privado
Há uma tendência mundial de ocupação dos espaços públicos, mas, em Porto Alegre, enquanto grupos se organizam de forma independente, a prefeitura ruma para outro lado: nem no Mercado Público, naqueles deques que avançam sobre o Largo Glênio Peres, é possível aproveitar a cidade depois das 19h. Fecha tudo.
"Não temos mais dinheiro público para fazer o essencial, e a solução é dinheiro privado. Ao Mercado Público, vamos levar uma forma privada de gestão. Porque o Mercado Público não é dos comerciantes que estão lá, é do cidadão. Ele não pode estar à disposição de um grupo específico, muito menos da prefeitura, que é incompetente para gerir o Mercado. Quem bota negócios no Mercado Público, quem ganha dinheiro nesse espaço é que terá que devolver para a cidade a segurança, a limpeza, a qualidade e um ambiente que fique aberto até a noite, quem sabe durante 24 horas em um dia da semana. Vamos fazer o mesmo em outros espaços, em parceria com gestores de centros comerciais e de shoppings, para que eles administrem seus entornos. Na orla, a mesma coisa. Não somos nós que temos que financiar (a revitalização da orla), é quem vai ganhar dinheiro com ela."
O pardal policial
Em entrevista ao La Urna durante a campanha eleitoral, Marchezan disse que "a segurança pública não será mais um problema em Porto Alegre se eu for eleito". Uma boa frase. Que será que ele está fazendo para honrar a promessa?
"A Capital é a rainha dos roubos de veículos: concentra 50% dos roubos de todo o Estado. Vamos fazer o monitoramento das entradas e saídas da cidade, com os pardais, e das rotas desses veículos, tudo integrado com o banco de dados do Estado. É uma tecnologia que já existe, basta boa vontade política e competência, o que o nosso governo tem em abundância. Também queremos ampliar a parceria com as polícias Civil, Federal, Militar e Rodoviária, para que a gente possa compartilhar informações e estruturas."
O preço da pichação
O prefeito de São Paulo, João Dória, do mesmo PSDB de Marchezan, enfrenta uma ruidosa polêmica ao combater a pichação na cidade cobrindo também alguns grafites. Paredes e muros pichados não faltam na capital gaúcha.
"Especificamente em relação a pichações, Porto Alegre tem problemas gigantescos para enfrentar. A gente tem um projeto simples de duplicar ou quadruplicar as multas para pichações. O valor de hoje é pequeno (as multas variam de R$ 585 a R$ 2.930 – se fossem quadruplicadas, chegariam a quase R$ 12 mil). O custo da prefeitura para limpar e para alocar funcionários para isso é bem maior do que a multa. Temos também que utilizar as câmeras da cidade, utilizar o aparato municipal e inscrever no Cadin (Cadastro Informativo de Créditos Não Quitados) os devedores de multas que sujarem a nossa cidade. É uma pequena coisinha, mas simbólica."