Sabe aqueles dias em que você chega em casa tão cansada que só quer dar play em alguma coisa na TV que te faça pensar o mínimo possível? Pois bem, foi assim que decidi por dar uma chance a Megarrromântico (assim mesmo, com tantos Rs), um dos lançamentos da Netflix. E, claro, por outro motivo que quem acompanha a coluna sabe bem: o longa tem uma atriz gorda como protagonista, e, como já falei por aqui, isso é raridade na dramaturgia.
Munida de um chá e uma certa dose de disposição, comecei a assistir. De cara, entendemos que a protagonista Natalie, vivida por Rebel Wilson, não confia muito no seu taco. E, surpreendentemente – se pensarmos nas questões que costumam vincular às personagens vividas por atrizes que não usam 36 –, o draminha não tem a ver (tanto) com imagem. A jovem arquiteta não se acha capaz de fazer bonito numa reunião no escritório, e isso vira um baita problema na vida dela. Mas o grande lance da trama de Megarrromântico começa lá atrás: na infância, a garotinha era apaixonada por comédias românticas, até que a mãe disse que contos de fadas como o que Julia Roberts vive em Uma Linda Mulher jamais se repetiriam com mulheres como elas. Pronto, era o que a guria precisava pra pegar um ranço eterno das comédias fofinhas do cinema – e aí vem a boa sacada do filme.
Natalie bate a cabeça (sim, clichê!) e cai em uma realidade paralela em que sua vida vira, bem, uma comédia romântica. Ela ganha um apartamento incrível, é a manda-chuva no trabalho e, claro, tem um cara gato aos seus pés. Não sem antes questionar: “Mas o que esse cara vê em mim? Esse tipo de bonitão que nunca me notou antes?”.
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Apesar da pretensão de fazer piada ao “homenagear” as comédias românticas, Megarrromântico segue repetindo alguns clichês. É um filme levinho demais, nada aprofundado, mas que tem seus trunfos. Para mim, o maior é, sem dúvida, a mensagem que fica (sem spoilers, juro!): do que, afinal, eu preciso para ser feliz? Ainda que de forma superficial, a personagem de Rebel Wilson vai se dando conta de que a força que ela tanto buscava não virá dos outros. E tenta dispersar a ideia de que encontrar “aquela pessoa” é o grande troféu que a gente ganha na vida – sabe aquele final feliz das fábulas de princesas? Será que a gente não precisa estar feliz com nossa própria companhia antes de jogar a responsabilidade da nossa felicidade eterna em outra pessoa? Gostar de quem somos não deveria ser nossa busca?
Boas risadas – graças ao humor sempre afiado da atriz principal – e uma mensagem que dá aquele quentinho no coração: é o que Megarrromântico garante. E também uma Rebel Wilson que, finalmente, encarou um papel em que seu corpo não é motivo de chacota ou deboche. Feliz por ela, feliz por nós – que, depois da questionável série Insatiable (que conta a história de uma garota que emagrece por vingança), ganhamos como pedido de desculpas da Netflix boas produções com gurias gordas como protagonistas. Que essa onda não pare.