Os históricos entraves do Mercosul e a crise que atinge seus sócios maiores neste momento fez com que o Uruguai, sócio menor e aliado do Paraguai em um comum ressentimento contra supostas desvantagens internas, criasse nova expressão: Uruexit. Na verdade, não tão nova. Trata-se de uma corruptela de Brexit, a expressão utilizada pelo Reino Unido quando decidiu deixar a União Europeia (UE). Às vésperas de um encontro de chanceleres em Buenos Aires, nesta quinta-feira, a expressão uruguaia é falada com ainda mais intensidade.
(Leia em Zero Hora nesta quinta-feira: a reunião de chanceleres do Mercosul tem uma peculiar contradição: ao mesmo tempo em que externamente o protecionismo do governo americano sob Donald Trump empurra o México, a Aliança do Pacífico e até a União Europeia para "novos desafios", os problemas internos dos bloco sul-americano lhe inibem atuações mais arrojadas. São problemas que podem ser ilustrados por dois episódios da última terça-feira: no Brasil, a maior economia do bloco, foi registrada inédita recessão de dois anos ininterruptos, com a queda de 3,6% do Produto Interno Bruto, e os casos de corrupção atingem o núcleo do poder. Na Argentina, a segunda maior economia do bloco, as acusações de corrupção também fustigam as autoridades, e, também na terça-feira, uma marcha organizada pelas poderosas centrais sindicais tomaram conta de Buenos Aires e indicaram a organização de uma greve geral entre o final de março e o início de abril.)
O Uruguai pretende avançar em um tratado de livre comércio com a China. Cogita sair do Mercosul e ficar livre para novos negócios, depois de acordo semelhante com o Chile já em 2017 e independentemente do Mercosul.
São pretensões antigas do país, muitas vezes maltratado por assimetrias.
O Uruexit se respalda num fenômeno que tem a ver com a crise: a progressiva diminuição do comércio entre os sócios do Mercosul. São anos e anos em que ela diminui. Soma-se a isso, para agravar a situação, as frustradas negociações com a UE, Estados Unidos e China e o pífio crescimento do Mercosul na comparação com a própria América Latina como um todo - em especial quando são levados em conta os integrantes da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru). E ainda deve se somar o fustigamento chinês aos uruguaios.
Uruguai é uma das mais importantes plataformas chinesas para operar na América Latina. Em dezembro, três delegações chinesas visitaram Montevidéu e assinaram acordos setoriais: para a importação de soja e de blueberries, e também para intercâmbios culturais.
Veja bem: a China já é o primeiro destino das exportações do Uruguai, em especial soja e carne. Paradoxalmente, diminui o comércio do Mercosul. O Brasil ainda é o segundo destino para os produtos uruguaios, mas a grave crise brasileira e também a situação difícil da economia argentina, e o protecionismo histórico desses dois países, empurram o Uruguai ao chamado Uruexit.