Estudo global mostra que o Brasil está em terceiro lugar no ranking dos países em que as mulheres mais têm medo lutar a favor da igualdade e liberdade. Índia lidera a lista com 54% e Turquia é segunda colocada com 47%
No mês do Dia Internacional da Mulher, celebrado neste 8 de março, a Ipsos enviou para a coluna os dados da pesquisa Global Advisor sobre feminismo e igualdade de gênero. O estudo, realizado em 24 países e que abordou vários temas, aponta que 41% das brasileiras sentem medo de defender seus direitos por temer o que possa acontecer com elas. Esse resultado faz com que o Brasil ocupe a terceira colocação do ranking, sendo as indianas as mais receosas (54%) e as turcas em segundo lugar (47%). O consolidado global é bem menor: 26% das mulheres têm medo de se expressar e defender a igualdade de direitos.
Que papel o do Brasil, hein?
Outros países latino-americanos que fizeram parte da pesquisa mostram que o Brasil, realmente, está muito atrasado nesse quesito. No México, 23% das mulheres temes lutar por seus direitos. No Peru, 18%. Na Argentina, 14%.
Ora, 14?!
Fica junto com o Reino Unido e atrás só da Alemanha (13%).
Percebam: A Argentina fica em 23º lugar, e o Brasil em 3º! Basta ver a quantidade de mulheres argentinas que saem às ruas para protestar contra o feminicídio. Que goleada as hermanas nos dão, gente?
Bem pior que o 7 a 1 da Alemanha na Copa, em que a Argentina foi vice!
Vamos combinar que as brasileiras têm motivos para isso. Uma em cada três brasileiras maiores de 16 anos declarou ter sido vítima de violência física, verbal ou psicológica, no último ano, revela pesquisa Datafolha. O estudo, intitulado "Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil", mostrou que 29% das entrevistadas afirmaram ter sido espancadas, ofendidas, ameaçadas, agarradas, perseguidas, esfaqueadas, empurradas ou chutadas nos últimos 12 meses. A pesquisa revela que 503 mulheres foram vítimas de agressões físicas por hora no Brasil e que dois em cada três brasileiros (66%) foram testemunha de alguma agressão física ou verbal contra mulheres no mesmo período. A pesquisa foi realizada a pedido da ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
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Alguns dados são alarmantes. Exemplo: quatro em cada 10 mulheres no mundo dizem que não têm direitos iguais aos dos homens ou a liberdade para alcançar seus sonhos e aspirações. Tchê, isso é quase metade!
Outra questão levantada entre a população global (mulheres e homens) é se "as mulheres são inferiores aos homens". A média mundial apontou que 18% acreditam que sim. O resultado do Brasil (16%) é muito próximo da média mundial. Mas, ufa, pelo menos nesse caso fica abaixo... Rússia e Índia divergem do número global, ficando empatados no top da lista, com 46%.
Analisando os dados separadamente das mulheres e homens, percebe-se que os entrevistados do sexo masculino são mais propensos a concordar com a suposta inferioridade feminina do que as mulheres, e a crença é particularmente alta na Rússia (49%) e na Índia (44%). O mesmo acontece com os brasileiros, visto que 19% dos homens brasileiros acreditam na inferioridade feminina contra 14% das mulheres.
Quando a questão foi se as mulheres devem cuidar dos filhos e famílias, não trabalhando fora de casa, 17% dos entrevistados globais concordaram com a premissa. Avaliando os resultados de cada sexo, 14% das mulheres são a favor contra 19% dos homens. Nesse quesito, o Brasil está em linha com a tendência mundial e somente 15% aprovam essa situação, sendo que os homens brasileiros concordam mais que as mulheres (17% e 14%).
Quase nove em cada 10 entrevistados em todo o mundo (88%) afirmam acreditar na igualdade de oportunidades para ambos os gêneros, e o número é elevado entre homens e mulheres (86% e 89%, respectivamente). Uma clara maioria em cada um dos 24 países acredita nisso, sendo o menor índice no Japão com 71%. No entanto, 72% dizem que a desigualdade existe em termos de direitos sociais, políticos e econômicos, especialmente as mulheres com 76% contra 68% dos homens. Novamente, uma maioria de cada país acredita que a desigualdade existe – incluindo o Brasil na quarta colocação com 78%. A única nação que discorda é a Rússia com 42%.
– Esta aparente contradição reflete muito bem dois opostos da situação feminina no Brasil e no mundo. De um lado, observa-se um recente crescimento das manifestações pelo empoderamento da mulher, seja por meio de movimentos na internet ou nas ruas, mas de outro a manutenção de valores machistas e da desigualdade de gênero. A violência contra a mulher, diferenças de cargos e salários, baixa presença da mulher na política são alguns exemplos desta desigualdade real", afirma Narayana Andraus, gerente da Ipsos.
As mulheres são mais positivas, visto que em média, 60% concordam que têm plena igualdade com os homens em seu país e são livres para realizar seus sonhos e aspirações. No entanto, em sete dos 24 países a maior parte das mulheres discorda, especialmente na Espanha (73%), Japão (67%), Coreia do Sul (64%), Turquia (62%), Brasil (55%) e Sérvia (55%).
Em média, seis em cada 10 entrevistados (58%) dos 24 países entrevistados se definiriam como feministas, sendo as mulheres mais propensas a isso do que os homens (de 62% a 55%). Analisando o total de cada nação, a população da Índia é a que mais se considera feminista, com 83%, seguida pela China com 74% e Itália com 70%. No Brasil, somente 51% se declaram como feministas, sendo a porcentagem maior entre as mulheres (58%) do que os homens (43%).
– No Brasil, o feminismo é algo historicamente recente. Nasce na década de 30, com a luta pelo direito ao voto, mas somente na década de 70 se iniciam as manifestações por oportunidades iguais de forma geral. Por isso, a compreensão do que é ser feminista ainda não é clara. Um índice de 88% concorda que devem existir oportunidade iguais para homens e mulheres, que é justamente a definição básica de feminismo, mas apenas 51% de declaram feministas – comenta Narayana.
Um índice de 68% dos entrevistados globais também afirmam reivindicar ativamente os direitos das mulheres, sendo os homens mais tendenciosos a dizerem que defendem os direitos femininos. O Brasil está alinhado com a média mundial, visto que 66% dos entrevistados no país acreditam apoiar os direitos femininos e mesmo analisando os números de cada sexo, a porcentagem brasileira é bem próxima (67% mulheres e 65% homens).
Uma minoria (25%) acredita que os homens são mais capazes que as mulheres, com exceção da China (56%) e Rússia (54%). No Brasil, 19% veem uma capacitação masculina maior em relação ao público feminino.
Realizada entre 20 de janeiro e 3 de fevereiro, a pesquisa foi feita via painel online em 24 países: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Hungria, Índia, Itália, Japão, México, Peru, Polônia, Rússia, Servia, Suécia e Turquia. Foram entrevistadas 17.551 pessoas, sendo adultos de 18 a 64 anos nos Estados Unidos e no Canadá e de 16 e 64 anos nos demais países. A margem de erro é de 3,5%.
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