Nacionalismos extremados e protecionismos combinam, independentemente das roupagens que tenham. São, sobretudo, os chamados "chauvinistas", que se retroalimentam. Causou surpresa a alguns que setores da esquerda estiveram abraçados com a extrema direita na votação do Brexit, a saída britânica do Reino Unido. Agora, com Donald Trump e seus muros, também há surpresas que já não deveriam existir. São fatos que se repetem desde antes do absurdamente asqueroso Pacto Molotov-Ribbentrop ou Pacto Nazi-Soviético.
São renitentes as exasperantes aproximações de regimes ditos populares com os mais obscurantistas governos do planeta. Mahmoud Ahmadinejad. Lembram do presidente iraniano, representante de um sistema misógino, homofóbico e negador do maior de todos os genocídios? Quantos tapetes vermelhos descoloridos lhe foram estendidos... e não muito longe daqui.
Pois bem. Não deveriam surpreender atitudes daqueles que se dizem "de esquerda" (resisto muito a chamar o venezuelano Nicolás Maduro de "socialista" ou mesmo "esquerdista") e outros que realmente são, com seus acertos e equívocos - não vem ao caso entrar aqui nesse mérito.
Este episódio não me surpreende: Nicolás Maduro disse que "é preciso esperar" para ver como Donald Trump se sai na presidência dos EUA e, após assinalar que houve uma "campanha de ódio" contra o magnata, acrescentou que não será "pior" que Barack Obama. "É preciso esperar. Sobre o presidente Donald Trump os grandes veículos de comunicação internacionais especularam muito e nos surpreende a campanha de ódio que há contra Donald Trump, brutal, no mundo inteiro, no mundo ocidental e nos EUA", disse. "Não nos antecipemos aos fatos, nesse sentido eu quero ser prudente e dizer: Esperemos, pior que Obama não será", acrescentou. O presidente venezuelano salientou que é preciso esperar para ver o comportamento de Trump "tanto na política interna dos EUA como na política internacional", ao mesmo tempo em que "ratificou" que quer ter "relações de respeito, comunicação e cooperação" com Washington. "Esperemos, vêm grandes mudanças na política mundial. Será o que chamam 'a era Trump', acredito que as mudanças da geopolítica mundial vão estar marcadas pela pluripolaridade e pelo multicentrismo. A época do mundo unipolar acabou e a Venezuela está na onda de essas mudanças", completou.
E este outro, bem moderado? O presidente de Cuba, Raúl Castro, se disse disposto a manter "diálogo respeitoso" com Trump. "Desejo expressar a vontade de Cuba de continuar negociando os assuntos bilaterais pendentes com os EUA, com base na igualdade, na reciprocidade e no respeito da soberania e da independência do nosso país, e prosseguir o diálogo respeitoso e a cooperação nos temas de interesse comum com o novo governo do presidente Donald Trump", disse Castro. Ele advertiu, porém, que embora os dois países possam "cooperar e conviver civilizadamente, não se deve esperar que, para isso, Cuba faça concessões inerentes à sua soberania e independência". Denunciou que, apesar das aproximações com o governo Barack Obama - que puseram fim a uma inimizade de meio século - o "bloqueio" econômico à ilha persiste, o que provoca "consideráveis privações e danos humanos". "Por isso, continuamos envolvidos na atualização do nosso modelo econômico e social e continuaremos lutando para construir uma nação soberana, independente, socialista, próspera e sustentável". Cuba reagiu com cautela às ameaças de Trump de recuar após a histórica reconciliação, a menos que Havana aceite condições mais exigentes sobre liberdades civis. O presidente cubano também manifestou que é desejável que Trump "opte pelo respeito pela região", mas considerou "preocupante que tenha declarado intenções que põem em risco" os interesses regionais nos âmbitos do comércio, do emprego, da migração e do meio ambiente.