O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpriu, nesta quarta-feira, talvez a sua mais polêmica e pitoresca promessa: assinou decreto que estabelece a construção de um muro na fronteira do país com o México. A medida vem acompanhada de outras destinadas a restringir a entrada de imigrantes e refugiados nos EUA. Para deixar claro que seu proselitismo eleitoral terá seguimentos práticos, ele proferiu uma curta e forte frase:
– Falávamos disso desde o começo.
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Por ser falada "desde o começo", a medida não surpreende os analistas. Ainda assim, todos a veem como um entrave nas relações internacionais.
– O problema maior será para os imigrantes de outros países que tentam entrar nos EUA pelo México. Para o México, mesmo, o problema maior está na revisão de acordos como o Nafta (Tratado de Livre Comércio para a América do Norte). Mas tudo ainda está na fase da retórica. Na realidade, não é só a vontade de Trump que valerá – diz o cientista político João Paulo Peixoto, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), que viveu durante dois anos em Albuquerque, no Novo México (EUA).
Especialista em Direito Internacional e Diplomacia, o professor Marcos Aurelio Barbosa dos Reis, da Unisinos, comenta que, mesmo com todo o anúncio prévio, "é difícil imaginar uma situação dessas".
– Soa como provocação aos mexicanos. É complicado até para os EUA. Não acredito que ele tenha apoio para isso. É uma medida bastante extrema. Vão se aprofundar ressentimentos históricos do México com os EUA, e isso é muito triste – diz ele, ressalvando que, apesar de a medida ser tomada por meio de um decreto, Trump precisará de apoio popular para persistir nessas "ações que vão na contramão da colaboração entre os povos e as nações".
Reis enfatiza um problema mais amplo provocado pelo erguimento do muro, o simbólico:
– Abre um grande precedente num momento em que o mundo precisa, mais do que nunca, de diálogo. Cria um ambiente favorável à xenofobia e ao racismo – lamenta o professor da Unisinos.
Mas o reforço do controle migratório, com a diretiva para iniciar a construção de um muro na fronteira com o México, agora já é uma realidade. Na linha nacionalista que tem seguido desde a campanha, Trump defendeu a decisão, afirmando que "uma nação sem fronteiras não é uma nação":
– O secretário de Segurança Interna, trabalhando em conjunto comigo e com a minha equipe, começará imediatamente a construção de um muro.
Políticos mexicanos pressionam por cancelamento de reunião
O decreto de Trump se refere ao reforço do controle na fronteira e, conforme o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, inclui medidas para a criação de mais instalações de detenção de imigrantes na região. Também veta a libertação de imigrantes ilegais presos e mantém a prioridade de deportação para os que tiverem antecedentes criminais. De acordo com Spicer, o muro "não é apenas uma promessa de campanha, mas um primeiro passo para dar segurança a nossa fronteira porosa". Trump também assinou decreto para reforçar a vigilância migratória no interior do país.
Horas antes do anúncio, Trump dissera que a construção começará nos próximos meses, mas "o planejamento será imediato". Partes da fronteira já têm cercas e barreiras, mas Trump pretende fazer o "belo muro" em todos seus 3,1 mil quilômetros. Quanto ao dinheiro, segundo ele, os EUA "receberão de volta em data posterior mediante qualquer transação com o México".
No México, a oposição já pede que o presidente Henrique Peña Nieto cancele a primeira reunião com o novo colega americano. O encontro está marcado para o dia 31, em Washington.