Como contar, hoje, o caos de um mundo que se tornou incompreensível? Essa foi a interrogação central que inspirou o novo espetáculo de Ariane Mnouchkine, fundadora e diretora do Théâtre du Soleil, e sua trupe internacional de 25 nacionalidades, Une chambre en Inde (Um quarto na Índia). O laboratório de criação, sempre sustentado na improvisação coletiva, desta vez se desenvolveu em Pondicherry, no sudeste da Índia. Mas, no palco, as fronteiras se dissipam e os mais variados temas são abordados: a criação artística e a função do teatro, os conflitos na Síria e em outras regiões do Oriente Médio, o terrorismo e o radicalismo religioso, os refugiados ou a opressão às mulheres. Não faltam em cena nem os próprios dramaturgos William Shakespeare e Anton Tchekhov ou Charles Chaplin para debater sobre os dissabores do mundo. E, em três horas e 50 minutos de teatro, no belo e original espaço cênico da Cartoucherie, o riso é um dos principais atores.
– Para falar do medo que este mundo engendra, escolhemos o cômico como um tipo de antibiótico. Nós queremos rir de nós mesmos, de nossos fracassos e de nossos temores, o que não quer dizer negar suas legitimidades. Existem razões legítimas de se ter medo, é preciso enfrentá-las e tratá-las. A peça se nutre também de nossas ênfases e de nossas ilusões, é o espetáculo mais difícil que já fizemos – confessou Ariane Mnouchkine.
População em queda
Paris, quem diria, está perdendo habitantes. O reputado Instituto Nacional da Estatística e de Estudos Econômicos (Insee, na sigla em francês) surpreendeu na divulgação de uma recente pesquisa revelando que a capital francesa teve sua população reduzida entre 2009 e 2014. Nesse período, o número de residentes caiu de 2.234.105 para 2.220.445, menos 13.660 habitantes em cinco anos. A tendência de queda atinge 14 dos 20 distritos da cidade, especialmente aqueles situados nas áreas centrais.
A prefeitura de Paris credita a queda a dois fatores: a baixa do índice de natalidade registrada em geral nas cidades e, principalmente, ao fenômeno Airbnb. As residências secundárias destinadas a "locações turísticas temporárias" aumentaram em 20 mil desde 2009, segundo os dados da administração parisiense. Para conter a curva descendente, a prefeitura pretende aumentar as taxas sobre as residências secundárias destinadas ao turismo de curto prazo, e assim encorajar os proprietários a alugar seus imóveis a futuros residentes.
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Uma outra estatística, divulgada no início de cada ano, já não espanta mais os franceses, embora ainda assuste os estrangeiros: o número de veículos incendiados na noite de Réveillon, uma infeliz tradição de vandalismo. Na virada para 2017, foram registrados 945 veículos queimados, contra 804 em 2016, 940 em 2015, 1.067 em 2014 e 1.193 em 2013. Em 2010, o governo de Nicolas Sarkozy havia parado de fornecer os dados para evitar uma suposta e nefasta "concorrência" entre bairros e localidades sobre quem queimava mais carros. Os números voltaram a ser divulgados em 2013, por ordem do então primeiro-ministro, Manuel Valls.
Perfume civilizatório
Cansada do onipresente odor de urina provocado por mijões apressados nos arredores de suas estações de trem em Paris, a SNCF, empresa ferroviária francesa, vai testar em Lyon o "uritrottoir" (contração de urinoir – mictório, em francês – e trottoir, calçada). Trata-se de um protótipo desenvolvido por uma agência de design que se pretende ecológico e prático. O invento tem um enorme bloco em sua parte inferior preenchido com palha, lascas de madeira ou serragem, que, associadas à urina, produzirão ao longo do tempo um fertilizante natural. Um sinal eletrônico alerta quando o recipiente tiver atingido sua capacidade máxima, de cerca de 600 pipis. E o odor? O "uritrottoir" vai exalar os perfumes de lavanda, alecrim, menta, sálvia, tomilho e artemísia.
Rodin e Barbara
A agenda cultural francesa de 2017 será especialmente marcada pela celebração de dois personagens do país, de duas diferentes épocas e aptidões. Na efeméride do centenário de sua morte, o escultor Auguste Rodin (1840-1917) será homenageado com uma grande exposição no Grand Palais, de 22 de março a 31 de julho.
Já os 20 anos de desaparecimento da cantora Barbara (1930-1997) serão lembrados por meio de um álbum de suas canções, interpretadas pelo ator Gérard Depardieu, por uma exposição na Philharmonie de Paris e por um filme sobre sua vida.