Uma importante mudança ocorreu ontem na condução da economia argentina e, evidentemente, tem relação com o pífio balanço do fim de ano.
O presidente Mauricio Macri demitiu o ministro da Fazenda e das Finanças, Alfonso Prat-Gay, até então o principal comandante da sua equipe econômica. A pasta será dividida em duas, e Prat-Gay será substituído por Nicolas Dujovne, que será ministro da Fazenda, enquanto Luis Caputo assumirá a de Finanças.
Algo em comum entre Dujovne e Caputto: ambos são liberais de raiz.
O presidente "pediu a ele a renúncia, eu transmiti isso a Alfonso", disse o chefe de gabinete. De acordo com Peña, as mudanças foram feitas no âmbito do poder do presidente para definir a equipe. O porta-voz não entrou no mérito sobre versões de que haveria diferenças sobre a política econômica entre o agora ex-ministro e o presidente. O chefe de gabinete disse que Macri e Prat-Gay estavam reunidos no sul da Argentina, onde o presidente passa uns dias de férias.
Prat-Gay assumiu o posto de ministro em 10 de dezembro de 2015, junto com o presidente, e tem sido questionado por não conseguir uma reação da economia nem o controle da inflação, que estaria atingindo o índice de 40% em 2016.
Apesar de ser responsável pelos principais avanços dos primeiros meses da gestão Macri – fim das travas ao comércio exterior, a saída do "default", o fim do cerco ao dólar e o acordo com os chamados "fundos-abutre" –, nos últimos tempos Prat-Gay vinha tendo diferenças com o presidente.
O principal entrave na relação entre ambos era o fato de Macri cobrar uma redução das taxas de inflação – atualmente em 40% – e uma retomada do crescimento (que foi negativo em 2016) e dos investimentos estrangeiros, que não vieram como a pasta havia planejado. Além disso, houve enfrentamentos entre Prat-Gay e o presidente do Banco Central, Federico Sturzenegger, por discordarem em relação às taxas de juros.
Quem deu a notícia da saída de Prat-Gay, na manhã de ontem, foi o chefe de gabinete, Marcos Peña, que agradeceu o ex-ministro pelos avanços alcançados. Peña afirmou que a decisão de Macri tinha a ver apenas com "uma visão de como organizar melhor o trabalho dentro do gabinete ministerial".
Nicolás Dujovne, que assumirá a pasta da Fazenda, será responsável por cuidar do orçamento nacional e também por manter a estabilidade das contas públicas. Especialista em macroeconomia, Dujovne passou por bancos privados, como o Galícia e o Citibank, e possui sua própria consultoria, a Dujovne & Associados. Também é uma figura midiática local, sendo coapresentador de um programa de televisão, "Odisea Argentina", sobre política e economia, no canal Todo Noticias (TN), do Grupo Clarín, e mantém coluna no jornal La Nación.
Luis Caputo não chega a ser um nome novo. Já atuava na equipe de Finanças do governo – foi o braço-direito de Prat-Gay na negociação com os chamados "fundos-abutre" e goza de prestígio junto ao presidente. Antes de integrar o governo, esteve por mais de 30 anos atuando no mercado financeiro.
Prat-Gay é um dos economistas mais respeitados do país, tendo sido presidente do Banco Central durante as presidências de Eduardo Duhalde e Néstor Kirchner e tendo estudado no Exterior e feito carreira fora da Argentina. Logo que assumiu a pasta, manifestou certo desconforto pelo fato de que Macri sempre preferiu não ter apenas um homem-forte na área, e sim trabalhar com uma equipe econômica. Como nos primeiros meses as medidas de Prat-Gay surtiram o efeito desejado, ele manteve seu prestígio em alta.
Agora, com o balanço do fim de ano, aparecem problemas nos números da economia: o crescimento foi de -1,8%, a inflação chega perto dos 40%, a desaceleração industrial é de 8% e há aumento no endividamento externo do país e uma crescente inquietação da população em razão dos aumentos constantes de preços e ao crescimento do desemprego e da pobreza. Resultado: Prat-Gay vinha perdendo prestígio.
– Temos novos desafios em 2017, e o presidente entende que esse é o melhor modo de organizar a equipe – disse Marcos Peña.
Em números
A economia mantém acumulada uma dívida de 2,4% até o momento. A recessão começou com a desvalorização de 32% disposta por Macri ao assumir em dezembro de 2015 e se aprofundou com uma inflação anual de mais de 40% (era de 26,5% no último ano do governo anterior, da adversária e desafeta Cristina Kirchner), com forte queda do poder aquisitivo dos salários e do consumo, segundo consultorias econômicas. A pobreza subiu de 29% para 32% em 2016, o PIB deve recuar 2%, o desemprego foi de 7,1% para 8,5%.
E o pior de tudo: a popularidade do presidente está em queda livre...