Opa, isto é muito importante: o ex-presidente uruguaio José Mujica expressou nesta segunda-feira, em Madri, sua solidariedade em relação ao líder oposicionista venezuelano Leopoldo López, que acaba de completar mil dias na prisão. Sempre é relevante lembrar: o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luis Almagro, foi chanceler de Mujica e é um dos principais adversários do chavismo e de suas evidentes mazelas, tanto no aspecto socioeconômico quanto no institucional.
- Não gosto de presos políticos em nenhuma parte do mundo - afirmou Mujica, talvez a referência mais forte da esquerda latino-americana atual, em visita à prefeitura de Madri. - Tenho solidariedade para com todos os presos políticos do mundo, seja qual for sua causa - acrescentou (López é da oposição de direita).
López completa nesta segunda mil dias na prisão militar de Ramo Verde.
O líder do Partido Vontade Popular cumpre uma condenação de quase 14 anos de prisão, acusado de incitação à violência durante os protestos opositores de 2014, que deixaram 43 mortos, na maioria opositores vitimados pela polícia.
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Enquanto isso...
Maduro, prorrogou por mais 60 dias o estado de exceção e emergência econômica em vigor desde janeiro. Também pediu que para que Barack Obama retire a Venezuela da lista de ameaças aos EUA.
- Procedo constitucionalmente a prorrogar o estado de exceção e emergência econômica em todo o território nacional para continuar governando e enfrentando a guerra econômica, apoiando o povo - disse Maduro, em seu programa semanal de televisão.
O anúncio de Maduro foi feito um dia depois de delegados do governo e da oposição terem acordado "priorizar" medidas para melhorar o abastecimento. Trata-se da quinta prorrogação do estado de exceção, após as edições de março, maio, julho e setembro. Nenhuma das extensões foi validada pelo Parlamento, e sim pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ).
Obama
Maduro fez um apelo a Barack Obama para que revogue o decreto que classifica seu governo como uma "ameaça" antes de entregar o poder ao republicano Donald Trump no início do ano que vem.
- Aspiro a que Barack Obama corrija antes de finalizar seu governo e derrogue o decreto que considera a Venezuela uma ameaça incomum e extraordinária para a segurança dos Estados Unidos", disse ele.
Washington declarou a Venezuela como uma "ameaça" em 2015, sendo mais um capítulo nas tensas relações bilaterais desde o governo do falecido Hugo Chávez (1999-2013). Maduro disse que, nos próximos dias, conversará com o secretário de Estado americano, John Kerry, para lhe pedir que "diga a Barack Obama que revogue o decreto contra a Venezuela antes de deixar o poder", em 20 de janeiro.
- Eu já mandei três cartas para Obama e ainda não me respondeu - acrescentou.
Só que... um dia após terem se comprometido a adotar uma convivência pacífica para resolver a grave crise política e econômica na Venezuela, governo e oposição voltaram a trocar farpas no domingo. Na noite de sábado (12), após o encerramento da segunda rodada de diálogo mediada pelo Vaticano, representantes das duas partes leram uma declaração em que se comprometeram "de forma solene a que as diferenças políticas tenham uma resposta apenas no estrito marco constitucional, um caminho democrático, pacífico e eleitoral". O pretenso avanço, contudo, demonstrou ter bases frágeis. O partido Vontade Popular, sigla de Leopoldo López, rechaçou os termos do acordo entre governo e oposição e pediu que o parlamento retome o julgamento político contra Maduro. A agremiação agradeceu aos "esforços de boa fé" da coalizão oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD) no diálogo com o governo, mas criticou o fato de os acordos não mencionarem o referendo revogatório contra Maduro, suspenso no dia 20 de outubro.
A MUD se defendeu das críticas e afirmou que mantém a sua principal reivindicação: reviver o referendo ou realizar eleições antecipadas.
Maduro, por sua vez, descartou a possibilidade de negociar com a oposição tais opções."Saída eleitoral? Saída para onde? (...) Que ninguém fique obcecado com processos eleitorais que não estão na Constituição", advertiu.
O mandatário ressaltou que seu governo não vê o diálogo como uma "rendição". "Está tudo escrito, acordado entre as partes, por que então saem a dizer o contrário?", concluiu o presidente venezuelano.
A questão é a seguinte: o referendo revogatório é, indiscutivelmente, um processo constitucional, político, eleitoral, democrático e legítimo de recall no meio do mandato. Fazê-lo ou antecipar as eleições são medidas básicas.