Os latino-americanos mantêm vigília contra o "feminicídio". Uma série de manifestações foi convodada nesta sexta-feira na região, onde a violência contra as mulheres tem sido especialmente denunciada pela ONU.
No Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher, aprovado pela Assembleia-Geral da ONU, foram anunciados protestos no Uruguai, Colômbia, Chile e Guatemala. No Peru, grupos feministas convocaram manifestação para o sábado, em Lima, em repúdio à "violência machista". As manifestantes participarão usando preto, em solidariedade às vítimas de abuso. Segundo a Procuradoria peruana, no primeiro semestre de 2016 foram relatados 35 casos de feminicídio no país. Na cidade francesa de Reims, um tribunal correcional julgou nesta sexta-feira 14 maridos violentos em uma audiência temática pelo Dia Internacional. Uma mulher morre assassinada na Argentina a cada 30 horas, segundo a ONG Casa del Encuentro, uma das inúmeras convocadoras de protestos, assembleias, atos e fechamentos de ruas nesta sexta-feira em Buenos Aires e em capitais estaduais. "Entramos em contato com centenas de coletivos feministas do mundo, coordenando ações, aproveitando a tecnologia para unificar discursos e para caminharmos juntas em direção a um protesto global de mulheres no próximo 8 de março", Dia Internacional da Mulher, disse à imprensa Marta Dillon do coletivo "Ni Una Menos".
Diante do peso do tema na Argentina, o presidente Mauricio Macri, criticado em 2014 por defender as cantadas nas ruas, recebeu na residência oficial familiares das vítimas da violência de gênero.
"Ni Una Menos" se soma à convocação do novo movimento de mulheres de base chamado "Paro Internacional de Mujeres (PIM, greve internacional de mulheres)", que abarca coletivos de 17 países, entre eles Argentina, Alemanha, Chile, Coreia, Equador, Rússia, Israel, Itália, México, Peru e El Salvador.
Falam sobre crimes de gênero na América Latina, com casos que também alarmam a Europa e os Estados Unidos, onde irão se manifestar contra a eleição do novo presidente Donald Trump, por suas declarações misóginas.
"Ni Una Menos" reuniu mais de 200 mil pessoas em dois protestos em Buenos Aires, um em 2015 e outro em 19 de outubro deste ano. Aos gritos de "Vivas nos queremos", acabam de acrescentar um terceiro lema: "Nosotras nos organizamos".
Um dado impressionante revelado pelo "Ni Una Menos" é que 97% de quase 6 mil mulheres de 1,8 mil localidades da Argentina disseram em uma pesquisa que mais de uma vez foram vítimas de assédio em espaços públicos e privados. A estatística destaca o novo Índice de Violência Machista.
Dillon disse que "o patriarcado estupra, mata e também prende". Organizações sociais e políticas se juntam pelo pedido de "libertação imediata" da líder social indigenista Milagro Sala em Jujuy. A libertação de Sala, líder do agrupamento Tupac Amaru e presa há 11 meses, é solicitada a Macri pelo grupo de Detenções Arbitrárias e pelo Comitê de Discriminação Racial das Nações Unidas.
Em Montevidéu, o coletivo Mulheres de Preto protesta nesta sexta-feira ao longo da principal avenida da capital uruguaia. Nos últimos 12 meses, 46 mulheres foram assassinadas no Uruguai. Em 30 casos, tratava-se de violência doméstica, segundo o Ministério do Interior.
Outra faceta da violência de gênero ocorre com a imigração. Na Argentina "as mulheres migrantes se organizam para combater fome, falta de acesso à saúde, precarização do trabalho e falsas urbanizações nos assentamentos", disse Vanina Viasi, do Plenário de Trabalhadoras.
O movimento feminino converge também na próxima Marcha das Mulheres em Washington, em 21 de janeiro, um dia depois que Trump assumir o cargo.
A relatora especial da ONU sobre violência contra a mulher, Dubravka Simonovic, falou esta semana em Buenos Aires que o país não cumpre como deve as normas de proteção às mulheres e crianças contra a violência de gênero.