Um alerta importante foi feito pela ONU: surgem e podem surgir ainda mais focos de violência em alguns pontos da Colômbia pelo advento de grupos criminosos que buscam ocupar o "vazio de poder" deixado pelas Farc.
- Há mudanças importantes nas zonas afetadas pelo conflito: hoje em dia há mais e mais problemas com a entrada de outros grupos ilegais - disse o representante do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos na Colômbia, Todd Howland.
Em meio ao processo de paz, os rebeldes se agruparam nas áreas onde deveriam entregar progressivamente as armas, mas estão "deixando vazios de poder sem transformar as economias ilícitas" que atraem outros grupos armados, explicou.
Segundo Howland, "há um problema real em razão do aumento da violência em várias partes do país por falta de implementar de maneira integral os acordos", que preveem a substituição de cultivos ilícitos, geradores de violência.
Howland detalhou que a costa do "Pacífico é um dos lugares mais afetados neste momento por esses vazios de poder", que também impactaram setores do departamento de Antioquia (nordeste). Na maioria dessas zonas, é forte o cultivo de folha de coca, base para a cocaína, e a exploração de mineração ilegal. Também são regiões chave para as rotas internacionais do narcotráfico.
Vítimas apelam para confirmação do acordo de paz
Um grupo de vítimas das Farc na Colômbia apoiou, em uma grande manifestação, o novo acordo de paz alcançado com essa guerrilha no final de semana em Cuba. Também defendeu uma implementação rápida que ponha fim a mais de meio século de conflito armado.
- Não será o melhor acordo, mas é uma opção que temos neste momento para viver melhor - disse Yuli Palacios, representante da Pacipaz, aliança de organizações de comunidades negras e indígenas do Pacífico colombiano.
Os representantes das organizações participaram de entrevista coletiva com representante do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos na Colômbia, Todd Howland, em que também estiveram comunidades e vítimas da conflagração interna provenientes do departamento de Chocó (noroeste), o mais pobre do país. As comunidades mostraram seu apoio ao novo pacto alcançado entre o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colombia (Farc), depois de o anterior ter sido rejeitado no dia 2 de outubro em plebiscito de voto facultativo, com a presença de um terço do eleitorado e fortíssima mobilização dos opositores ao documento.
O novo acordo inclui proposições dos representantes do "não" ao convênio original, conseguido após quase quatro anos de negociação em Havana.
- Cada dia que passa é uma ameaça. Nós consideramos que não podemos continuar esperando mais os assuntos da construção da paz em nossos territórios - disse Leyner Palacios, representante das vítimas do massacre de Bojayá, onde em 2002 morreram 79 pessoas que se refugiavam em uma igreja dos enfrentamentos entre as Farc e grupos paramilitares.
Outras vítimas das Farc se opuseram ao acordado por não terem sido escutadas e porque rejeitam que guerrilheiros ganhem elegibilidade política e não paguem com penas de prisão pelos crimes que cometeram.