O problema é que qualquer gesto deve vir dele. Sem a realização do referendo revogatório ainda neste ano (para que seja efetivo) ou a antecipação das eleições presidenciais, não rola qualquer acordo. Mas. ok: o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que está disposto a manter o diálogo com a oposição para resolver a crise política, mas "sem bravatas" ou ultimatos.
- Eu faço todo o possível e o impossível para que tenha diálogo de paz com a direita e estou disposto a continuar, mas sem ultimato, sem bravatas - afirmou o presidente em seu programa de rádio "La hora de la salsa".
O diálogo entre o governo e a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) foi instalado em 30 de outubro passado com o acompanhamento do Vaticano e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). A MUD insiste em o referendo revogatório contra Maduro - suspenso em outubro -, mas coloca como alternativa eleições gerais no primeiro trimestre de 2017.
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Maduro reiterou, porém, que a agenda eleitoral já está definida, dando a entender que não pode haver modificações. Foi dele, aliás, a iniciativa para suspender o referendo e para adiar as eleições regionais - o chavismo tem a maioria dos governadores e deve perdê-la.
O nº 2 do chavismo, Diosdado Cabello, disse o seguinte:
- Não há referendo, nem há eleições gerais. Aqui o que tem é revolução, felicidade e tranquilidade para nosso povo.
Ora, assim o acordo é impossível.
"Felicidade e tranquilidade" para o povo?! Fala sério, meu! Este colunista esteve em Caracas faz quatro meses. Viu um país onde falta quase tudo (80% de desabastecimento dos produtos da cesta básica), onde as pessoas fazem filas de sete horas para comprar um quilo de farinha, onde doentes morrem porque não têm os medicamentos mais acessíveis no Brasil, por exemplo, onde a inflação é a maior do mundo, onde a violência é quase sólida de tão densa.
Outro ponto colocado pela MUD é a libertação dos "presos políticos", mas Cabello rejeitou que o diálogo se transforme em uma "lei de anistia".
- A direita venezuelana não pode transformar o diálogo em uma lei de anistia para que os assassinos saiam - disse.
"Assassinos"?!!!
Ora, há algo como cem presos políticos na Venezuela. Um exemplo ilustrativo: Leopoldo López, o líder opositor da ala mais radical. O que teria feito López para estar mofando na cadeia e condenado a quase 10 anos de prisão? Ele seria um dos "assassinos" porque, no início de 2014, promoveu um protesto, que foi reprimido pela polícia (do governo, claro). Resultaram 43 mortos, a grande maioria deles de opositores vitimados pelas forças de segurança.
Esses são os assassinos. Esse é o país revolucionário, feliz e tranquilo.
E esse é o caminho para um diálogo impossível.