Os franceses estão sempre atentos à fagulha de uma frase para incendiar uma polêmica e exercitar o debate, o esporte nacional do país. A mais recente foi deflagrada pelo primeiro-ministro Manuel Valls, que, em plena controvérsia em torno da proibição do burkini (o traje de banho islâmico) em praias francesas, exclamou, ao final de seu discurso no comício do Partido Socialista (PS):
– Marianne, o símbolo da República, tem o seio nu, porque ela amamenta o povo. Ela não está coberta por um véu, porque ela é livre. Isso é a República!
O comentário gerou críticas de políticos, controvérsia entre historiadores e uma avalanche de ataques no Twitter. A historiadora Mathilde Larrère, especialista das revoluções, reagiu de pronto, acusando o premier de confundir a República com os direitos das mulheres. Ela lembra que havia os republicanos conservadores, que representavam Marianne com os seios cobertos, e os revolucionários, que optavam por uma imagem mais subversiva, transgressora e desnuda. Sobre a tela A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix (1798-1863), que teria inspirado Manuel Valls e na qual Marianne aparece a descoberto, escreveu: "Em 1830, Delacroix pinta sua Liberdade, que não é uma República, mas uma liberdade.
Para a historiadora, Marianne em nenhum caso simbolizava os direitos e as liberdades das mulheres, mas sim o regime republicano, que em seus primórdios não defendia a emancipação feminina. A líder ecologista Cécile Duflot também condenou a comparação: "Seios nus e mãe que amamenta, isso dá uma pequena ideia da imagem que alguns destes senhores da política têm das mulheres", alfinetou. Historiadores concordaram ao concluir que a história de Marianne, surgida no final do século 18, é… "complexa". Se os franceses não conseguem chegar a um consenso sobre os seios de seu ícone da República, o que dizer do burkini islâmico?
Odores e fragrâncias
Célebre por sua gastronomia, Paris renderá homenagem a uma outra excelência francesa, que certamente se tornará uma concorrida atração turística para os interessados. Em dezembro deste ano, será inaugurado o ambicioso Grande Museu do Perfume. Em quatro andares, num espaço de 1,4 mil metros quadrados do número 73 da rua Faubourg Saint Honoré, emblemático bairro parisiense do luxo e da elegância, será contada a história, a arte e o savoir-faire do perfume na França, num percurso que se pretende ao mesmo tempo lúdico, sensorial e instrutivo.
Gastronomia humanista
Este é o conceito defendido pelo evento Pratos de resistência, organizado pelo guia gastronômico francês Le Fooding: 13 chefs “engajados” de diferentes países vão elaborar menus de sua “cozinha humanista” num mesmo dia em Paris, 24 de setembro, em cinco serviços, das 11h às 23h. A ideia é sublinhar o “viver junto” e a “luta contra o desperdício alimentar”. Na lista de cozinheiros, há os franceses Pierre Gagnaire (padrinho de um projeto de reinserção social nas prisões) e Franck Paranger (dos restaurantes Le Pantruche e Caillebotte, com atuação em programas de alimentação solidária), como também as brasileiras Regina Tchelly (da ONG Favela Orgânica) e Roberta Sião (no comando do londrino Mazi Mas, junto a Niki Kopcke, com trabalhos junto a mulheres imigrantes), além de representantes da Índia, do Líbano e dos EUA.
A conta da comilança no La Générale (14, av. Parmentier, 75011) será de 40 euros por pessoa, e o dinheiro arrecadado será destinado à associação SOS Mediterrâneo, de auxílio aos imigrantes que têm desembarcado aos milhares no litoral europeu.
A arte de Agnès B.
Conhecida por sua grife de roupas, Agnès B. é também uma entusiasta galerista e colecionadora de arte. Pela primeira vez, ela mostrará em Paris uma centena de obras de sua coleção de arte contemporânea – pinturas, fotografias, instalações, vídeos –, acumuladas desde os anos 1980.
A exposição Vivre! (de 18/10 a 8/1, no Museu da História da Imigração, av. Daumesnil, 75012) apresentará trabalhos de mais de 50 artistas, entre eles conhecidos nomes como Henri-Cartier Bresson, Brassaï, Nan Goldin, Man Ray, Willy Ronis, Andy Warhol e Basquiat.