Bolívia e Equador chamaram seus embaixadores em protesto à destituição de Dilma Rousseff? A Venezuela, além de chamar seu embaixador, "congelou" as relações com o Brasil? O governo de Michel Temer deu o troco e consolidou um ambiente de confronto com os vizinhos "bolivarianos". Chamou para consultas seus embaixadores na Venezuela, no Equador e na Bolívia.
O chanceler brasileiro José Serra, reagiu às críticas dos antigos aliados do Brasil, durante os 13 anos dos governos petistas. A reação mais forte foi para o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cujo governo anunciou, no início da tarde, a retirada de seu embaixador em Brasília, assim como o congelamento das relações com o Brasil, ao condenar "energicamente" o "golpe parlamentar".
- O governo venezuelano não tem qualquer moral para falar de democracia, já que não adotam um regime democrático - afirmou Serra. - Um país que tem presos políticos não vive em uma democracia.
Sobre as reações de Equador e Bolívia, Serra anunciou que também convocou os representantes dos dois países em Brasília. Após o impeachment, o Equador retirou seu encarregado de negócios, Santiago Javier Chávez Pareja, até agora seu principal representante diplomático em Brasília. Em maio, Quito já havia convocado para consultas seu embaixador no Brasil, Horacio Sevilla. Desde então, ele não voltou ao posto e, em junho passado, foi nomeado representante permanente do Equador na ONU. O governo do Equador disse que a embaixada ficará a cargo do terceiro-secretário. Embora não tenha mencionado o congelamento das relações, advertiu que "provavelmente tenha algum tipo de afetação à relação bilateral". O presidente da Bolívia, Evo Morales, convocou para consultas seu embaixador, após condenar o "golpe parlamentar".
- Faço um apelo para que os chefes de governo e de Estado destes países se apeguem mais à realidade, ao que realmente está ocorrendo no Brasil: uma mudança prevista na Constituição e nas leis - disse Serra.
O governo cubano também qualificou o impeachment de Dilma de "golpe de estado parlamentar-judicial" ao considerar que "constitui um ato de desacato da vontade soberana do povo". Na mesma linha, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) - na voz de seus membros Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua - condenou o "golpe de Estado parlamentar".
A rejeição a Michel Temer será grande na região - e não apenas nela. Políticos americanos se manifestam contra o novo governo brasileiro, assim como, por exemplo, o secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, esquerdista, ex-chanceler de José Pepe Mujica e, por outro lado, adversário ferrenho dos bolivarianos. Almagro é contra o impeachment de Dilma e a favor do referendo revogatório previsto constitucionalmente na Venezuela para afastar o presidente Nicolás Maduro - em uma consulta popular prevista para o meio do mandato.
Protesto junto à OEA
Já era final da tarde de ontem quando os países da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), a Venezuela, a Bolívia, o Equador e a Nicarágua, denunciaram formalmente na OEA o que definem como um "golpe de Estado" contra Dilma. O representante suplente da Nicarágua, Luis Ezequiel Alvarado, condenou um "golpe de Estado parlamentar" e acrescentou:
- Isso demonstra que as forças regressivas do hemisfério continuam trabalhando com o objetivo de desestabilizar e de provocar golpes de Estado contra os governos progressistas da região.