Até o 31 de dezembro, Paris e seus arredores abrem suas cortinas a uma variedade de espetáculos internacionais contemporâneos em 42 diferentes palcos, das salas mais tradicionais aos espaços mais inusitados. Em sua 45ª edição, o Festival de Outono, que começou na quarta-feira passada, é um evento de circulação de criações, de obras e de artistas ansiosamente aguardado por aqui no segundo semestre de cada ano.
Idealizado sob o governo de Georges Pompidou com o objetivo de rivalizar com festivais artísticos de outras grandes cidades europeias, o Festival de Outono parisiense surgiu em 1972, e foi acumulando importância e visibilidade ao longo das décadas. Neste ano, o eclético programa, com criações de 17 países (dos Estados Unidos ao Líbano, passando por Brasil, Síria, Congo, Polônia e Espanha), é apresentado em teatros, óperas, centros de dança, grandes escolas, igrejas e outros locais atípicos especialmente adaptados, mesclando vários tipos de artes, em performances de apenas alguns minutos até longos espetáculos. Os pilares desta edição são o diretor de teatro polonês Krystian Lupa (com três criações sobre a obra de Thomas Bernhard), a coreógrafa e dançarina americana Lucinda Childs e o compositor espanhol Ramon Lazkano. Além deles, há Frank Castorf, considerado enfant terrible do teatro alemão, com sua versão de Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski; o francês Julien Gosselin e sua elogiada montagem de 2666, baseada no romance homônimo do chileno Roberto Bolaño; e a trupe experimental nova-iorquina The Wooster Group, com Early shaker spirituals e The Town Hall affair (inspirado no debate do escritor Norman Mailer com feministas, em 1971). Só para citar mais uma entre tantas atrações, haverá ainda a performance concebida por Olivier Saillard, na qual Charlotte Rampling e Tilda Swinton transformam fotografias expostas na Maison Européenne de la Photographie em uma galeria viva de imagens. Para ilustrar o cartaz do festival, foi utilizada uma obra da americana Sheila Hicks, parisiense de adoção e artista também presente na programação. Já o Brasil está representado pela dança da paulista Lia Rodrigues, com o espetáculo Para que o céu não caia.
Conflitos no cinema
Entre as recentes estreias de cinema parisienses, dois filmes franceses têm dado o que falar por sua correlação com abrasivos temas da atualidade. Nocturama, de Bertrand Bonello, aborda o mal-estar civilizatório, tendo como personagens desorientados jovens de Paris e seus subúrbios. Mesmo que o roteiro tenha sido escrito antes dos atentados que atingiram a França desde janeiro do ano passado, público e críticos vêm assinalando enormes convergências da trama com as recentes tragédias. O título original do filme, aliás, era Paris é uma festa, em referência ao célebre livro homônimo de Ernest Hemingway, mas acabou alterado porque se tornou frase da resistência da capital francesa após os massacres terroristas.
Já Voir du pays, das irmãs Delphine e Muriel Coulin, trata do retorno de duas militares francesas após seis meses de serviço no Afeganistão. Na volta, o batalhão faz uma escala obrigatória de três dias num resort de luxo no Chipre, como parte de um projeto de tratamento dos traumas de guerra, com o acompanhamento de psicólogos, e em meio ao ambiente de banhos hammam, turistas à beira-mar e piñas coladas. "Passar da burca ao fio-dental é meio rápido como zona de descompressão", diz um dos soldados ao chegar ao hotel.
Ao pé do pódio
Paris melhorou sua classificação, mas não foi desta vez que alcançou o pódio no ranking das cidades de maior atratividade do mundo (Cities of Opportunity).
A capital francesa ficou em quarto lugar na pontuação geral – dois postos acima de seu desempenho em 2014 –, logo atrás de Toronto, de Cingapura e da campeã Londres. No critério de melhor qualidade de vida, a Cidade Luz, que há dois anos ocupava a sétima posição, levou a medalha de ouro ex aequo com Nova York, graças a sua "vitalidade cultural" (segundo lugar), sua "diversidade e extensão dos transportes" (primeiro) ou seus "jardins públicos" (terceiro). Já no quesito "capital intelectual e inovação", a cidade caiu do primeiro para o quarto lugar. Na avaliação de "cidade mais cara", fez jus aos seus preços e se classificou em quarto lugar.