Vejam que interessante isto. É uma aposta no futuro pacífico, mas com os dois pés no chão, para que, enfim, dê tudo muito certo neste momento histórico.
A Colômbia descarta "dissolver" sua Força Pública após selar o acordo de paz com a guerrilha das Farc, que busca acabar com um conflito armado de 52 anos, declarou o ministro da Defesa, Luis Carlos Villegas.
- Não cometerá a Colômbia o erro que se cometeu, por exemplo, na América Central, de pensar que ao se firmar acordos de paz tudo está resolvido - afirmou o ministro em um debate sobre o orçamento de 2017 no Congresso.
O governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chegaram na semana passada a um acordo de paz e decretaram um cessar-fogo bilateral e definitivo, que entrou em vigor na véspera.
- Essa paz exige as forças armadas mais poderosas de nossa história, para podermos enfrentar dois desafios: a manutenção de uma paz estável e duradoura como foi negociado, e as ameaças que persistem - disse Villegas, em referência aos demais grupos armados ilegais que operam no país.
Villegas confirmou que o confronto armado com as Farc foi reduzido em 98% após o "avanço das negociações de paz".
- As pessoas realmente estão levando a sério o cessar-fogo e o fim das hostilidades. Estamos voltando aos territórios proibidos e há tranquilidade no tráfego noturno - disse ele.
O orçamento nacional para 2017 estipula 28,7 trilhões de pesos (9,75 bilhões de dólares) para o setor da Defesa, soma superior aos 28,1 trilhões (9,5 bilhões de dólares) destinados em 2016.
O historiador argentino Carlos Malamud diz que o importante é o seguinte: são grandes as chances de as Farc trocarem as armas pela palavra e o voto. E é isso que importa. A este colunista resta dizer que concorda com Malamud.
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Pesquisa do instituto Datexco para o jornal "El Tiempo" dá
39,2%
de votos para o "sim" ao acordo de paz e
27,2%
para o "não".
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A banda do contra
Faz sentido tanta precaução. Líderes de oposição fizeram, em Bogotá, ato contra o texto do acordo. Pediram à população que vote "não" ao acordo no plebiscito do próximo dia 2 de outubro e apresentaram 1,315 milhão de assinaturas recolhidas em todo o país contra o chamado Ato Legislativo para a Paz.
Aprovado pelo Congresso no primeiro semestre, o recurso permite um "fast track" (via rápida) para aprovação de alterações na Constituição necessárias para a implementação do acordo (criação da Justiça transicional, distribuição de assentos no Congresso sem eleição direta e outras) e dará ao presidente poderes extraordinários, por até seis meses, para emitir decretos considerados necessários à implementação do acordo. À frente do protesto estavam o ex-presidente e atual senador Álvaro Uribe, o senador Iván Duque (líder da campanha do "não") e o ex-presidenciável Iván Zuluaga. Eleitores do Centro Democrático, partido ao qual pertencem os três, levavam cartazes contra as Farc ou com os dizeres "não engulo esse sapo", enquanto aplaudiam os líderes, que caminharam do Congresso até o Palácio de Justiça, no centro da capital.
A pergunta
Enquanto a oposição fazia barulho nas ruas, na Casa de Nariño (sede do governo) o presidente Juan Manuel Santos assinava o decreto convocando o plebiscito que validará o acordo. Em 2 de outubro, os colombianos responderão à pergunta "Você apoia o acordo final para o encerramento do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura?".
- É uma pergunta clara e simples. Será um plebiscito que ocorrerá sem confrontação armada com as Farc, pois estamos em cessar-fogo bilateral. Mais legitimidade, impossível - disse o presidente.
A definição da pergunta foi motivo de longo debate na noite de segunda-feira no Congresso. E de nervos exaltados. Enquanto os governistas encheram as salas da Câmara e do Senado de balões brancos, simbolizando a paz, a oposição levou bonecos de papelão dos principais líderes das Farc e colocou-os em cadeiras, numa crítica ao ponto do acordo que concederá 10 vagas no Congresso para ex-guerrilheiros. Em suas mesas, os opositores puseram cartazes com a hashtag #yonometragoesesapo (não engulo este sapo).
O método de aprovação do acordo foi um dos motivos de entrave das negociações. A guerrilha queria a convocação de uma nova Assembleia Constituinte, na qual tivessem poder de voto. Por fim, concordaram com o governo em fazer a consulta popular. A Corte Constitucional colombiana, então, determinou que se trataria de plebiscito vinculante - no qual o resultado seria de cumprimento obrigatório, sem necessidade de passar pelo Congresso. Como na Colômbia o voto é facultativo, o patamar mínimo para aprovação do "sim" será de 13% do eleitorado, ou 4,5 milhões de votos.