A opinião pública brasileira é gangorra amalucada e imprevisível. Nosso país parece uma escola de samba desfilando com o samba atravessado. Não há mais certezas e garantias coletivas. De nada. Artistas, antes tratados como guardiões da cidadania e das relíquias brasileiras, hoje são vistos como reles aproveitadores do dinheiro público.
A extinção do Ministério da Cultura inflamou a classe artística e incomodou letrados e iletrados. Violentos ataques denunciaram o dito oportunismo de uma gente preocupada tão somente em manter benefícios e mamatas.
Que uma categoria profissional tenha se mobilizado para defender seus interesses específicos, não deveria causar surpresa. Professores, bancários e caminhoneiros têm idêntico procedimento. A pressão por melhorias trabalhistas, no cotidiano democrático de um país assim organizado, não é leviandade ou anarquismo. É direito adquirido, gostem ou não.
Cultura gera empregos, mexe com economia,impulsiona o turismo, burila a identidade de um povo. E sim: é dever do Estado fomentar as políticas públicas do setor. Reduzir o Ministério às concessões de renúncia fiscal, esquecendo seu papel guardador do patrimônio histórico nacional, das nossas orquestras e bibliotecas, é menoscabar a discussão.
As reações contrárias têm sua origem na confusão entre cultura e entretenimento. Certamente se pode, e deve, aperfeiçoar a lei em relação ao clientelismo de espetáculos mercantis e às contrapartidas de quem dela se beneficia. Sou totalmente a favor da existência do Ministério e de leis de fomento bem aplicadas.
Sou contra oposições que só revelem diatribes pessoais ou priorizem interesses partidários em detrimento das necessidades da cultura brasileira. Os encrenqueiros de sempre certamente não concordarão comigo.
A pergunta de Delfim Netto (“Alguém duvida da importância da cultura na construção de uma sociedade civilizada?”), a julgar pelas manifestações das últimas semanas, teria uma única resposta: muita gente.