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Uma conversa da coluna com Gustavo Villegas Restepro, secretário de Segurança de Medellín, sobre a pacificação colombiana. Medellín é a cidade tida como símbolo de uma transformação. Leia a entrevista:
– Coluna: A pacificação de Medellín em particular e da Colômbia em geral é irreversível?
– Gustavo Villegas Restepro: Não se pode antecipar algo assim, porque depende de dinâmicas sociais, políticas, econômicas e criminais, internas e endógenas, que tornam praticamente impossível qualquer exercício a respeito. Em Medellín, não estamos em guerra. Vivemos, porém, uma situação complexa pela presença de estruturas armadas do crime organizado. Mas não temos problemas pontuais com a guerrilha. A presença de estruturas criminais na cidade são um desafio para nossa administração e, sob essa perspectiva, estamos trabalhando com os diferentes organismos de segurança e justiça para combatê-las.
– Coluna: Quais as consequências dos ataques dos narcoparamilitares? Ameaçam a paz?
– Villegas: Frente ao processo de paz que ocorrem em Havana (com a guerrilha marxista), é natural que outras agrupações, à margem da lei, pretendam buscar cenários para ser igualmente escutadas e levadas em conta. E uma maneira tradicional de as agrupações à margem da lei se fazerem notar é precisamente mostrando que têm poder e capacidade para causar danos. As consequências que podem para as negociações essas manifestações de força são imprevisíveis, mas não acreditamos que sejam relevantes. Podem obedecer mais a seu interesse de buscar também uma resposta institucional a sua situação.
– Coluna: Quais são as principais mudanças em Medellín desde a pacificação iniciada na cidade?
– Villegas: Há expectativa em relação à localização das pessoas desmobilizadas da guerrilha assim que se assine a paz. Não acreditamos que Medellín será afetada, porque essa desmobilização não deve ocorrer nos centros urbanos.
– Coluna: Medellín pode servir de modelo a outras cidades?
– Villegas: Pelas características da cidade e pela importância que se reveste em nível nacional, sempre foi uma referência no processo de pacificação. Quando se conseguem resultados importantes na luta contra o crime organizado, esses bons resultados se convertem em experiências positivas que podem replicar em outros cenários, sempre se levando em conta as variáveis de contextos. Medellín está na vanguarda dessa luta e em muitas ocasiões se torna um exemplo a seguir pelo governo nacional.
– Coluna: As Farc pedem que o governo resolva os problemas com os narcoparamilitares, que são herdeiros dos paramilitares de direita, mas que hoje são simplesmente grupos criminais sem ideologia. Esses problemas podem travar o processo de paz?
– Villegas: No país, sempre houve delinquência comum, inclusive antes da existência das guerrilhas. Desse modo, não acreditamos que as negociações em Havana sejam prejudicadas. Pelo contrário. O governo terá que oferecer garantias suficientes e necessários para que os representantes do grupo armado (Farc) tenham a tranquilidade suficiente para consolidar os acordos, entre eles a deposição das armas. Por outro lado, é obrigação do Estado, não somente pelas negociações com a guerrilha em Havana, mas também por disposições constitucionais, combater as fontes geradoras de violência. Nesse sentido, o Ministério Público do país e os demais organismos de segurança e Justiça devem ter o compromisso e a disposição para atuar em conformidade com a lei.
– Coluna: O que há por trás da ação dos grupos narcoparamilitares?
– Villegas: Os denominados grupos narcoparamilitares são organizações armadas, devidamente estruturadas, que identificaram uma forma de vida vinculada às atividades ilícitas, que lhes confere gordas vantagens econômicas e que intimidam muitas pessoas em todo o território nacional. Os rendimentos criminais não são só meio, também são a finalidade da sua atuação. A infiltração na institucionalidade dificulta a judicialização, mas, na medida em que se abra a possibilidade de negociações com eles, estarão dispostos a apresentar suas propostas. Desde a procuradoria-geral, existe essa possibilidade, que não é remota, na medida em que já existem antecedentes no país.