Milhares de cubanos angustiados, alguns há meses no Panamá, reivindicaram na quinta-feira liberdade de trânsito pela América Central a fim de continuar sua rota migratória para os Estados Unidos. Os cubanos permanecem em albergues improvisados nos armazéns e prédios mais antigos e desativados, à espera de uma solução para continuar seu caminho diante da recusa da Costa Rica de permitir sua passagem. A Nicarágua também nega ingresso.
O curioso dessa situação, que diz muito ao Brasil, é o seguinte: o drama dos cubanos aumenta diante da presença de africanos na zona fronteiriça, procedentes, em sua maioria, da República Democrática do Congo. Eles iniciam sua trajetória migratória no Brasil e, de lá, tentam chegar por terra aos EUA.
Cerca de 40 foram detidos sexta-feira na delegacia de Ciudad Neilly, na Costa Rica, a 20 km da fronteira, incluindo algumas crianças e mulheres.
– Estamos passando fome e sem dinheiro. Precisamos que facilitem algum caminho para chegarmos aos EUA – reclamou, para a agência de notícias France Presse, um congolês que se identificou como Chaiden, de 34 anos. Ele passou um ano em Santa Catarina e, depois, começou seu trajeto por terra.
Para o ministro panamenho de Segurança, Rodolfo Aguilera, os incidentes causados pelos cubanos que entraram na Costa Rica na quarta-feira, pelo Panamá, são produto de problemas entre Cuba e EUA.
– É um problema que não fomos nós que causamos, e sim os que se encontram no país de origem e no país de destino. Somos apenas um país de trânsito – disse Aguilera em entrevista coletiva.
Esses cidadãos cubanos "estão em uma situação de estresse", afirmou o ministro, acrescentando que o Panamá vai "respeitar a dignidade e os direitos humanos desses indivíduos que, no fim das contas, não são delinquentes, mas seres humanos que estão passando por uma situação difícil".
Segundo Aguilera, as facilidades migratórias americanas para os moradores da ilha socialista são "o ímã que atrai os cubanos para os EUA em busca de melhores dias, e essa é uma situação, com a qual se tem de lidar".
Mais de 3 mil cubanos estão na zona fronteiriça do Panamá com a Costa Rica, angustiados com a incerteza sobre a rota que lhes permitiria chegar aos EUA.
Cerca de cem pessoas percorreram o trajeto de quase dois quilômetros sob um calor sufocante entre o abrigo de San Isidro, no Panamá, e o lado costa-riquenho da fronteira para reivindicar o direito de continuar sua rota.
– Queremos seguir – gritavam os cubanos, irritados com a falta de água e energia elétrica nos abrigos.
– Não é só porque queremos continuar, é uma necessidade. Não podemos continuar nessas condições desumanas – lamentou a médica Ileana Bordonado, 60 anos, que participou dos protestos.
Cerca de 20 policiais costa-riquenhos tentavam impedir o grupo de avançar.
A pequena manifestação ocorreu um dia depois que mais de mil cubanos e alguns africanos tentaram entrar à força na Costa Rica. Depois disso, o governo determinou o reforço da vigilância na fronteira.
– Pedimos desculpas ao povo da Costa Rica pelos incidentes. Não somos perturbadores da ordem. Defendemos nossos direitos e vamos nos manter unidos até que os governos encontrem uma solução para que possamos seguir – disse o professor de Educação Física Alen de Jesús Chávez, 35 anos, morador de Guantánamo.
Deixando dois filhos e a esposa em sua terra natal, Jesús Chávez sonha agora com chegar aos EUA para poder buscar sua família.
Depois que a Nicarágua barrou a passagem dos cubanos, a Costa Rica acolheu cerca de 8 mil pessoas. Elas conseguiram sair por um acordo de ponte aérea pelo México, por El Salvador, ou pela Guatemala, mas o governo costa-riquenho indicou que esses três países não estão dispostos a reativar esse mecanismo de saída.
Na terça-feira, a Costa Rica convocou um encontro de autoridades migratórias dos países da região em busca de uma saída para essa crise migratória. O encontro terminou sem uma solução para os milhares de cubanos e africanos que estão no Panamá.
O ministro Aguilera também manifestou que, perto da fronteira com a Costa Rica, o governo panamenho está habilitando novas instalações afastadas da população para acolher os migrantes cubanos em situação irregular. Em todo o país, eles já são mais de 4 mil.