O censo argentino constatou que há 150 mil negros no país.
Com uma miscigenação bem mais pronunciada, os brasileiros costumam olhar para a Argentina como um país europeu encravado na América do Sul.
Não é assim. Leia aqui: esta coluna já fez um texto sobre isso. Este colunista escreve sobre esse tema há alguns anos. A negritude faz parte, também da formação cultural argentina.
Veja, então, um mapeamento da presença africana na Argentina:
Sul da cidade de Buenos Aires (San Telmo, em especial)
Os primeiros moradores africanos de Buenos Aires se estabeleceram na área costeira de do Rio da Prata, no sul da cidade . A cultura africana é mantida viva hoje nos bairros de Monserrat, San Telmo, Barracas, La Boca e San Cristobal. Na Calle Defesa 535 - pleno coração de San Telmo, o Movimento Afrocultural é um espaço para a divulgação de diversas expressões, embora se especialize em candombe afro-uruguaio. Seus membros preparam um encontro popular para 21 de março ( "Dia Internacional Contra o Racismo ") e um grande evento cultural para 5 de abril pelo vigésimo aniversário da morte do militante José Delfín Acosta Martinez, no salão principal. Aos sábados, das 14h às 19h, pode ser visitado o Museu Afro, onde se exibem obras de artistas africanos e um mapa que identifica os locais de assentamentos de ascendência africana no sul da cidade, como o espaço da calle Herrera, 313, no bairro de Barracas onde, pasme, mas certa vez havia um quilombo. Vale muito a pena!
Província de Buenos Aires
Dock Sud: nativos de Cabo Verde e seus descendentes se estabeleceram, a partir da segunda metade do século XIX, em Dock Sud (Avellaneda). Tradições são preservadas com zelo pela Sociedad de Socorros Caboverdeana, de Cabo Verde, empresa especializada na organização de ajuda mútua, promoção cultural e luta contra a discriminação. Seu presidente, Mirya Gomes, é referência sobre literatura africana em português. Também há elementos sobre pessoas originárias de Senegal , Mauritânia, Libéria, Serra Leoa , Mali e Nigéria.
Fundada em 1927, a Associação Caboverdeana de Ensenada é a mais antiga das instituições a unir as pessoas imigradas de Cabo Verde no mundo. Sua sede portenha fica na calle Moreno, 118. Ali são organizadas exposições artísticas, aulas de dança e apresentações musicais, entre outros eventos.
Chascomús
Um dos pontos turísticos na excursão pelos pontos turísticos de Chascomús é a Capela da Irmandade dos "Morenos", mais conhecida como " Capela Black" . O templo preserva o piso e as paredes de barro e cal. O cuidado da capela está a cargo da afrochascomunenses, descendentes de Eloisa Gonzalez Luis, a última testemunha da presença africana sobre as margens da lagoa durante o século XVIII . Enquanto trabalhavam como criados ou escravos, eles se dedicavam a fazer artesanato em madeira e organizar bailes de candombe. Entre 1866 e 1867, na epidemia de cólera que atingiu Chascomús, a capela tornou-se um leprosário.
Ciudad Evita
Desde sua fundação em 2008, a Associação Misibamba procura promover o intercâmbio e a integração cultural e educacional entre os membros da diáspora africana na Argentina e seus países de origem, além de difundir informações sobre a época em que era permitida a escravidão.
Rosario (Santa Fe)
Com sua primeira participação no Encontro e Festa Nacional das Coletividades (em 2o15), o festival de música “Africa party” e o seminário “Danzas y simbologías afrobahianas”, a Associação Africana se tornou conhecida em Rosario, a principal cidade da província de Santa Fe. Cidadãos de Nigéria, Senegal, Guinea, Tanzânia, Gana, Burundi e Costa do Marfim difundem suas culturas por meio de danças, músicas, pratos típicos e bebidas.
Santa Fe (Capital)
Educação não formal, teatro, dançae luta contra a discriminação são os pilares que sustentam a Casa de la Cultura Indoafroamericana, fundada em 1988 na capital santafesina e presidida por Lucía Molina. Entre suas principais atividades, destacam-se as Jornadas Federais de Cultura Negra e as emissões do programa “Indoafroamerica”, às 17h dos sábados na Radio Nacional Santa Fe.
Entre Ríos
Paraná (capital de Entre Ríos): as pistas africanas em Paraná são resguardadas e difundidas pela Comunidad Indoafroamericana. Percebe-se isso fortemente no bairro El Tambor, onde os escravos celebravam suas festas e encontros batendo palmas, tambores e outros instrumentos de percussão. Dois artistas afros se destacam: Enrique Badaracco e Pablo Suárez, que formam a dupla Tambores del Litoral e gravaram o CD “Tangó del Litoral”.
Chaco
Resistencia (capital da província de Chaco): a cada 6 de janeiro (“Día del afrolitoraleño”), a Comunidad Afrodescendiente de Chaco celebra San Baltasar, considerado “Santo Rey del Candombe”. Nesse dia, ocorre a Llamada de Candombe, com tambores e danças, na lagoa Argüello de Resistencia. Uma música é como hino, de tão marcante: “África y el Paraná en la sangre”. Quem canta? O Colectivo Danza Identidad.
Corrientes
Corrientes, capital: há o bairro de Camba Cuá, na capital corrientina. Lá viviam os escravos libertos em meados do século XIX. Há diversos festejos que celebram as origens negras e, também, as guaranis.
Santiago del Estero
San Félix, a 130 kilómetros de Santiago (capital da província), fica San Félix. É emocionante! Trata-se do último povoado argentino habitado apenas por ex-escravos. Há, atualmente, mais de 40 famílias. Recomenda-se ver um documentário de Alberto Masliah sobre a imigração africana em Santiago del Estero. O nome é “El último quilombo”. Santiago del Estero, aliás, é a província (Estado) argentina onde havia maior contingente de negros: 70% da população.
Córdoba
Córdoba, capital: a cultura africana é impulsionada pelos imigrantes haitianos. Na calle La Rioja 2115, há o Instituto de Presencia Afroamericana de Córdoba, que difunde a cultura afro. Há festivais de música, aulas, palestras de debates.
Alta Gracia: também na província de Córdoba, a cidade de Alta Gracia tem o Museu Nacional de la Estancia Jesuítica y Casa del Virrey Liniers. Pode-se apreciar La Ranchería, uma típica casa de imigrantes africanos.