De olhos bem fechados, Adele recebeu seu público. E que olhos. Um imenso telão protegia o palco da O2 Arena, na noite do dia 18, com uma foto dos olhos da cantora pintados com sua marca registrada: o perfeito risco de delineador.
Adele não é artista feita para grandes plateias. Seu vozeirão, sim, dá conta de qualquer espaço. Mas ela não dança e não vem acompanhada de superproduções típicas de shows de arenas. Então, havia curiosidade para saber o que ela teria preparado para entreter um auditório com 20 mil pessoas no seu retorno aos palcos, quatro anos após sua última apresentação.
No sucesso Hello, a primeira surpresa. O que parecia uma foto era na verdade uma projeção. Os olhos de Adele se abriram na tela, e a cantora encarou a multidão ao mesmo tempo em que surgia ao vivo num palco menor no fosso central da arena.
Começavam ali duas horas de encantamento da artista de maior sucesso do mercado mundial, dona de 10 Grammys, um Oscar e a maior vendedora de discos da atualidade. Ah, e que, aos 27 anos, está prestes a se tornar a nova bilionária do planeta.
Adele foi desfilando seu repertório, nas primeiras três músicas sem pausa, comprovando que a cirurgia na garganta pela qual passou não afetou a potência vocal da sensação londrina. O telão agora passava a projetar apenas imagens da cantora em um enquadramento fechado, na maioria imagens em preto e branco. Tudo muito simples, limpo e de bom gosto. Extremamente bem executado. Tudo bem ao estilo inglês.
Mas a melhor surpresa ainda estava por vir.
Carismática, Adele fala, e fala sem parar. Sem pudor, brinca, fala de tudo e todos, provoca a plateia, conta histórias engraçadas. Enfim, apronta, leva as pessoas às lágrimas e às gargalhadas, mostra-se à vontade – a verdadeira dona da casa.
– Você aí, do lado da sua mulher, veio para o meu show arrastado, né? – cutuca. – Mas olha só, até o final eu vou ganhar você, vai ver só!
Criada pela mãe num bairro de classe trabalhadora de Londres, Adele insiste em continuar simples – há quem diga que isso é puro marketing. Mas, apesar dos luxos aos quais tem acesso, ela prova que ainda mantém os pés na realidade.
A dona de uma voz inigualável, com quase todos os ingressos esgotados para a turnê mundial de 107 shows (a América do Sul ficou fora do roteiro), consegue mostrar no palco uma autenticidade incomum às grandes estrelas. A bordo de um longo Burberry marinho, ela é puro charme e se doa ao extremo na hora certa, quando está no palco para seu público fazendo o que melhor sabe: cantar.
Quem resiste?