Os presidentes "bolivarianos" afinaram o discurso e fizeram, nas últimas horas, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. Críticos ao "intervencionismo" quando há opiniões negativas chegadas de fora dos seus países aos seus governos, agora eles opinam de forma contundente contra os protestos da oposição brasileira.
O presidente do Equador, Rafael Correa, disse que a crise política do Brasil faz parte de um "novo plano Condor" contra os governos progressistas da região. "Você acha que isso é casualidade? É o novo plano Condor (aplicado na década dos 70 pelas ditaduras militares do Cone Sul para coordenar o extermínio de opositores) contra os governos progressistas", declarou o mandatário em uma entrevista na rede televisão oficial. "Já não se precisa mais de ditaduras militares, se precisa de juízes submissos, se precisa de uma imprensa corrupta que inclusive se atreva a publicar conversas privadas, o que é absolutamente ilegal", acrescentou. "Fizeram o mesmo com Cristina (Kirchner), fizeram o mesmo com Evo (Morales), com o filho que ainda estão procurando, fizeram o mesmo com (Nicolás) Maduro, fizeram com Dilma, fazem com Lula, tentaram fazer o mesmo conosco", disse Correa. "O que está acontecendo no Brasil é gravíssimo. Querer romper a ordem constitucional, tirar um presidente democraticamente eleito é gravíssimo, a judicialização da política, se um juiz que não tem legitimidade democrática pode derrubar um governo, para um potencial candidato presidencial", ressaltou Correa.
...
A direita brasileira busca promover um golpe do Congresso e do Judiciário contra a presidente Dilma Rousseff para tirá-la do poder e desabilitar politicamente seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou o presidente boliviano, Evo Morales. "A direita no Brasil quer voltar, mediante um golpe do Congresso e um golpe judicial, para castigar o Partido dos Trabalhadores, o partido do companheiro Lula, para derrubar e processar a companheira Dilma", afirmou o chefe de Estado esquerdista boliviano, durante um ato público. "O que (a direita) quer fazer: punir, a direita sul-americana e a direita norte-americana querem punir os dirigentes sindicais e operários, como Lula, [para que] nunca mais sejam presidentes de um país, com um golpe do Congresso", acrescentou. Morales aproveitou para criticar seu colega argentino, Mauricio Macri. "Nem imaginam o que está acontecendo na Argentina: a direita volta a tirar os benefícios sociais, as conquistas sociais, para privatizar os serviços básicos", afirmou o presidente boliviano.
...
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, manifestou nesta quinta-feira seu apoio à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chamando a crise política no Brasil de "golpe de estado midiático e judicial". "Há um golpe de estado midiático e judicial contra a presidente Dilma Rousseff e contra Lula da Silva, líder do Brasil e da nossa América", disse Maduro de forma enérgica no Palácio de Miraflores. Maduro revelou ter "falado com vários presidentes latino-americanos", que "estão muito preocupados" com a situação no Brasil. O líder de esquerda - como seu antecessor Hugo Chávez, Dilma e Lula - disse não ter dúvidas de que se trata de um golpe de estado a onda de protestos e denúncias sobre corrupção envolvendo os governos do Partido dos Trabalhadores (PT). "Decidiram por uma operação para apagar a liderança legítima e democrática destes dois dirigentes", afirmou o presidente venezuelano, garantindo que Dilma é "uma mulher de honestidade única, conhecida por sua honestidade e valentia". No caso de Lula, Maduro garantiu que "foi o melhor presidente da história do Brasil". Lula e Chávez firmaram dezenas de acordos de cooperação bilateral envolvendo bilhões de dólares, e declaravam amplamente seu mútuo apoio.
...
Tímidos, Uruguai e Argentina devem reforçar apoio regional
Além de Bolívia, Equador e Venezuela, a Argentina e o Uruguai também expressaram, num tom bem mais moderado, apoio a Dilma. Os países devem firmar posição comum na Unasul sobre a crise vivida no Brasil. Potência econômica regional, o Brasil é sócio-fundador do Mercosul e da Unasul, e com esses dois blocos têm alianças estratégicas. Na qualidade de presidente pró-tempore da Unasul, o Uruguai anunciou que fará uma declaração pedindo que se respeite o mandato de Dilma, segundo o chanceler Rodolfo Nin Novoa à imprensa local."No Brasil há uma situação complicada, a estamos acompanhando. Estamos preocupados, temos falado com o presidente Tabaré Vázquez e em sua condição de presidente da Unasul está emitindo uma declaração fazendo um pedido para que se respeite a ordem institucional no Brasil e o mandato da presidente Dilma Rousseff, que foi eleita por voto popular até 2019", expressou Nin. Na Argentina, a chanceler Susana Malcorra disse que "há um apoio institucional" do governo Macri e pediu que a crise seja enfrentada por meio de "um mecanismo democrático". Em declaração à rádio local Belgrano, Malcorra negou que a Argentina tenha dado um apoio "frio" à presidente Dilma. "Não, não há (um apoio frio), há um apoio institucional", declarou." As instituições têm que resolver os problemas pelos canais institucionais. (Dilma) Rousseff foi eleita por um mecanismo democrático e só um mecanismo democrático, institucional, pode mudar isso", acrescentou. Malcorra reafirmou que a Unasul busca uma posição conjunta em relação à crise brasileira."Trabalhamos com nossos colegas da Unasul para fixar uma posição como bloco", adiantou. O chefe de Gabinete de Macri, Marcos Peña, foi ainda mais moderado, dizendo que a Argentina não interferirá na crise brasileira. "Olhamos com preocupação o que está acontecendo no Brasil. O Brasil é um parceiro estratégico, olhamos com interesse o que está acontecendo, mas com respeito porque é um processo que eles que tem que definir", disse.