- Conheço os brasileiros, isso não vai dar em nada.
Essa frase, atribuída ao último imperador do Brasil, dom Pedro II, teria sido pronunciada no próprio dia 15 de novembro de 1889, quando o golpe militar liderado pelo hesitante marechal Deodoro da Fonseca já havia derrubado a monarquia. Os detalhes desse evento histórico são relatados em forma de reportagem no excelente livro de Laurentino Gomes, 1889, em que ele conta como um imperador cansado ( dom Pedro II), um militar vaidoso ( Deodoro) e um professor de matemática ( Benjamin Constant) contribuíram para a mudança de regime no país.
O imperador amava o país onde nasceu. Na sua carta de despedida, escreveu: " Conservarei do Brasil a mais saudosa lembrança, fazendo ardentes votos por sua grandeza e prosperidade". Depois, já em Portugal, num encontro com o escritor Camilo Castelo Branco, que estava cego, queixou- se do exílio e de ter perdido o trono. O escritor lembrou- lhe que, pelo menos, tinha a luz dos olhos. E dom Segundo suspirou:
- Mas falta-me o sol de lá.
Amar o país, porém, não garante competência para governar. A monarquia caiu de podre e nos tornamos todos republicanos, termo que os políticos vulgarizaram e deturparam. Ser republicano é defender a igualdade, os direitos civis e respeitar a Constituição, mas é também repudiar de forma inequívoca a apropriação do Estado, o desvio de recursos públicos e todos os tipos de favorecimentos, incluindo o famigerado jeitinho.
Alguém, ironicamente, já escreveu que ser republicano é não ser brasileiro.
Não é bem assim. Muitos brasileiros, a maioria provavelmente, amam o país como o imperador deposto e acreditam na honestidade, no trabalho e na nossa capacidade de promover mudanças. Haverão de surpreender-se, como ocorreu com o monarca, os poderosos que menosprezam a força coletiva do nosso povo e continuam achando que a indignação coletiva não vai dar em nada. Somos republicanos, sim, na melhor acepção do termo. E amanhã vamos celebrar mais um aniversário da nossa República acreditando que ainda vamos viver num país grande, próspero e iluminado pelo sol da liberdade do nosso hino e dos nossos melhores sonhos.
Coluna
Republicanos
Leia a coluna publicada em 14 de novembro
Nílson Souza
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