Esta é boa! Uma coincidência bacana, que desperta a vontade de alardear nosso pioneirismo. Parece até que a prefeita de Madri, a esquerdista Manuela Carmena, ouviu falar na troca de nome da Avenida Castelo Branco pelo nome Avenida da Legalidade e da Democracia. Manuela pisou fundo e tomou a atitude altaneira como uma regra geral a ser implementada: aprovou a mudança do nome de 30 ruas das muitas que seguem homenageando personalidades da ditadura, quatro décadas depois da morte de Francisco Franco.
Perdão, leitores mais arredios a esses símbolos. Este colunista festeja medidas assim. Gosto de saber que estou transitando pela avenida que leva o nome de um dos mais bonitos movimentos que esta terra gaúcha já promoveu.
E quanto a Franco, ora, deve mesmo ter sua triste memória desprovida de quaisquer homenagens. Não digo que deva ser apagado da História, porque, claro, o que a Espanha viveu depois daqueles trágicos anos 1930, com a guerra civil vencida pelos fascistas, não pode jamais se repetir. Então, vale a memória.
Em Madri, a medida foi aprovada com os votos da plataforma Ahora Madrid liderada por Manuela, do Partido Socialista e da formação centrista Ciudadanos. O conservador Partido Popular, que governou a capital anteriormente durante 24 anos, votou contra, anunciou a prefeitura em um comunicado.
Assim, a partir do segundo trimestre de 2016, Madri deixará de ter uma "Plaza del Caudillo" em memória de Franco e esquecerá ruas como a "del Arco de la Victoria", "de Arriba España" ou "de los Caídos de la División Azul", em homenagem aos milhares de voluntários espanhóis que combateram junto à Alemanha nazista no front russo a partir de 1941. Viva a democracia!
A capital também rebatizará as ruas que conservam os nomes de generais franquistas. Entre eles Emilio Mola, líder do golpe de Estado militar de 1936 contra a Segunda República que, após seu fracasso, abriu caminho a três anos de guerra civil. Ou Antonio Sagardía Ramos, conhecido como o "açougueiro de Pallars" pelos massacres de republicanos nessa localidade catalã.
Este é apenas o início, anunciou a prefeitura, afirmando que as ruas de Madri verão adiante outras mudanças. A nova equipe municipal havia previsto essa medida desde sua investidora, mas no 40º aniversário da morte de Franco, em 20 de novembro, o grupo socialista havia convocado a passar das "declarações de intenções aos fatos". Numa apuração feita pela cidade, contabilizaram "mais de 170 ruas, praças e passagens com nomes de personagens destacados do franquismo e da Falange", partido de inspiração fascista fundado em 1933.
Um advogado espanhol, Eduardo Ranz, apresentou neste ano pedido a 60 prefeituras de toda a Espanha, incluindo Madri, para que apliquem a lei de Memória Histórica, destinada a reconhecer os direitos das vítimas do franquismo (triste movimento que durou da vitória na guerra civil, em 1939, até a morte do generalíssimo, 1975), adotada em 2007 quando os socialistas governavam a Espanha. A tal lei diz que as administrações públicas "tomarão as medidas oportunas para a retirada de escudos, insígnias, placas e outros objetos ou menções comemorativas de exaltação, pessoal ou coletiva, da sublevação militar, da Guerra Civil e da repressão da ditadura".