O deputado estadual Edegar Pretto resolveu acatar pedido dos movimentos sociais e está pedindo a concessão da Medalha do Mérito Farroupilha ao presidente da Bolívia, Evo Morales. A iniciativa provocou uma tremenda confusão. Os adversários de Pretto alegam que tal honraria só deve ser feita quando o contemplado tenha "serviços prestados ao Rio Grande do Sul". Pretto argumenta que esses serviços existem, sim, por diversos motivos que você poderá ler na entrevista abaixo. E, citando outros homenageados que não são gaúchos, como Zezé di Camargo e Luciano e Ana Maria Braga, recomenda que o Estado tenha uma visão mais internacionalizada.
Leia os motivos de Edegar Pretto:
- Qual a justificativa para o senhor dar a Medalha do Mérito Farroupilha a Evo Morales?
- Na verdade, estou sendo portador de um pedido dos movimentos camponeses do Rio Grande do Sul e do Brasil também. Este ano, a Comissão Pastoral da Terra, que organiza a romaria da terra, a segunda romaria da terra mais antiga do Brasil, que ocorre dia 9 de fevereiro. vai celebrar os 260 anos do assassinato do índio Sepé Tiaraju, que a Igreja Católica está lutando para tornar santo, para canonizar. Então, a romaria da terra será sobre essa reflexão. E um dos convidados é o Evo Morales, já que ele é o único índio da América Latina presidente da República.
- Esse é o motivo?
- Eles fizeram o pedido para que a Assembleia Legislativa, em reconhecimento à luta dos povos indígenas, dos camponeses, dos sindicalistas, que são um pouco a origem do Evo Morales, fizesse essa homenagem a ele representando toda a luta do povo camponês. O Evo Morales é um índio sindicalista, representante dos camponeses.
- O mérito farroupilha é entregue por algo que seja feito à comunidade gaúcha. Está de acordo?
– Queremos, nessa homenagem ao presidente Evo, homenagear especialmente os índios, os povos indígenas do Rio Grande do Sul, e o povo camponês. O Sepé Tiaraju, na luta que ele fez, o território guarani que ele defendeu e foi assassinado por isso ia do Brasil até um pedaço da Bolívia. Como tem toda a simbologia do Sepé Tiaraju e da luta que ele fez, nos 260 anos que vamos celebrar, isso será simbolizado na homenagem que os movimentos farão ao Evo Morales. Então, estamos pegando toda essa trajetória dele, não somente como presidente, mas especialmente pelo símbolo representado na pessoa dele, como presidente e pela sua origem. Se pegarmos pela questão econômica, nós, aqui no Rio Grande do Sul, somos abastecidos pelo gás natural da Bolívia, que abastece nossa frota. Então, a Bolívia tem, sim, ligação, tem fundamentos econômicos com o nosso Estado.
- Então, a relação com o Estado teria esse viés econômico?
- Não, não. É a representação do que ele foi e do que ele é, como camponês e índio, o único índio a ocupar uma cadeira de presidente na América Latina. Então, acho que o Rio Grande do Sul precisa ter essa visão internacionalista. A nossa história, nossa colonização, os primeiros que aqui chegaram, os índios, já que o ano que vem é o ano de celebrar o assassinato de um índio que a igreja católica quer tornar santo e que teve uma luta semelhante à que os índios bolivianos e brasileiros fazem, tudo isso é o queremos homenagear ao homenagear o presidente Evo Morales.
- Evo Morales, de certa forma, representa o Sepé Tiaraju?
- Acho que o Evo Morales é um símbolo da resistência indígena na América Latina. Tantos índios foram assassinados. O Sepé Tiaraju deu sua vida por esse legado que também marcou e marca a vida de Evo Morales, com sua militância antes de chegar à presidência. E a Assembleia Legislativa, para informação de vocês, já homenageou um ex-presidente de Portugal, personalidades como a (apresentadora) Ana Maria Braga, a dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano e várias outras pessoas que não são do Rio Grande do Sul, que não têm vínculos aqui, mas que o deputado que apresentou a sugestão tem alguma fundamentação que justifique a iniciativa, assim como eu tenho, atendendo ao pedido dos movimentos sociais, que vão convidar o Evo Morales para a Romaria da Terra. Aliás, nós pretendemos homenageá-los. Ainda não está certo que ele virá para o Rio Grande do Sul.
- Partindo do universal para o local, o Evo tem contribuição para o Estado, então, na sua visão?
- Não tenha dúvida de que sua luta e sua trajetória de sindicalista e origem indígena certamente são inspiradoras para o Rio Grande do Sul e o nosso país.
- Quando começava seu mandato, em 1º de maio de 2006, Evo nacionalizou os hidrocarbonetos e refinarias, postos e distribuidores de petróleo, gás e derivados, além de tornar o governo boliviano sócio majoritário dessas indústrias, detendo 50% mais 1 das ações. Entre as grandes prejudicadas estava a Petrobras, que investira mais de US$ 1 bilhão naquele país. Foi um dos momentos de polêmica e desconcerto em relação ao Brasil. O senhor pensou nisso ao sugerir a homenagem?
- Essa é uma decisão diplomática que os dois países já resolveram, pelo que me consta. Quero registrar também que, a partir desses movimentos que me fizeram a solicitação, fui recebido pelo Evo Morales no ano passado, quando participei da visita do Papa à Bolívia, no II Encontro Mundial dos Movimentos Sociais. O presidente Evo Morales sediou esse encontro, e fui recebido por ele junto com lideranças do mundo inteiro que são ligadas aos movimentos sociais, que são também a minha origem.
- O senhor conversou com ele? Ele conhece bem o Rio Grande do Sul?
Conhece a história do Rio Grande do Sul, conhece a luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conhece a resistência do povo indígena, conhece a história do Sepé Tiaraju, que é um dos motivos pelos quais ele está sendo convidado a vir para o Rio Grande do Sul.