Luís Cláudio Lula da Silva sai da festa de 70 anos do pai, na quarta-feira, em São Paulo, e vai para o apartamento onde mora. Logo depois, por volta das 23h, emissários da Polícia Federal batem na porta e o intimam a depor por suspeita de envolvimento em ações de lobistas do setor automobilístico junto ao governo. Os agentes da lei foram brindados por uma casualidade - o aniversário de Lula e a intimidação de um filho dele, pouco antes da meia-noite. Mais uma hora e a coincidência estaria desperdiçada. Se Luís Cláudio escapar, Lula já avisou: tem mais três filhos e sete netos que ainda não foram investigados. Um deles será pego. Homens da lei devem saber o que fazem com suas ações noturnas. A normalidade dispensa o sol e a claridade.
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Eduardo Cunha manobra, à direita e à esquerda, para sobreviver. Não se ouve, vindo da universidade, o mais tênue jogral de vozes contra Cunha, seus cúmplices golpistas e o que ele representa para a degradação do parlamento, da política e da democracia. Nem vozes desafinadas são ouvidas. As vozes fortes, legalistas, que enfrentaram golpistas, sob todos os riscos, nos anos 60 e 70, calaram-se na academia no Brasil. Não têm força nem para enfrentar um Eduardo Cunha. A universidade descobriu o conforto da abstinência de posições. Não incomodem a universidade brasileira, não tentem tirá-la da normalidade.
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O Congresso exerce com crueldade seu poder de destruição, com a pauta-bomba comandada por Eduardo Cunha, Caiado, Aécio e Zé Agripino. E o empresariado brasileiro faz seminários para debater novos mercados na Indonésia. A oposição pulveriza o ajuste, cria despesas e faz força para quebrar o país ainda neste ano. E o empresariado faz eventos sobre como vencer na crise que não é dele, é dos outros. Em um encontro recente de dirigentes de empresas de ponta do país, alguns fizeram apelos para que a elite econômica reaja. Bradaram em discursos: vamos nos unir, pressionar o Congresso e parar de nos queixar. Foi na semana passada. Nada aconteceu. O ministro Joaquim Levy é o aliado largado na sarjeta. Assim caminha a resignada normalidade da elite empresarial do país.
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Manchetes de quinta-feira: Bradesco fecha o terceiro trimestre com lucro líquido contábil de R$ 4,1 bilhões, 6,1% acima da cifra do mesmo período de 2014. Nos primeiros nove meses do ano, o lucro líquido chegou a R$ 13,3 bilhões, 18,6% acima do mesmo período do ano passado. Não se sabe qual foi o lucro gasoso. Mas o Bradesco e outros bancos estão preocupados com a inadimplência. Um executivo admitiu que o lucro sobe, enquanto cresce o atraso nos pagamentos, porque o mercado passa por "uma breve situação de estresse". O Nobel de Economia Joseph Stiglitz já afirmou que o Brasil é um país tão estranho, que o setor produtivo se apaixona pelos bancos, a ponto de achar que os ganhos absurdos deles também acabam sendo seus. Os lucros dos bancos no Brasil explodem enquanto a economia encolhe porque são uma das mais antigas normalidades do nosso capitalismo.
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Carlos Alberto Brilhante Ustra, o mais famoso torturador da ditadura, recebe homenagens póstumas de colegas militares. Nem a tortura impõe limites à nossa normalidade.