Um homem atormentado que lê a Bíblia, na busca urgente de sínteses para suas aflições, tem o que procura no Livro dos Provérbios. Henrique Pizzolato viajou da Itália para o Brasil lendo a Bíblia no avião. Pode ter encontrado conforto nas frases curtas e circulares dos provérbios.
Como essas: a desgraça persegue os pecadores; a felicidade é a recompensa dos justos. Ou essas: a soberba precede a ruína, e o espírito eleva-se antes da queda.
Ninguém se dedica à leitura da Bíblia assim no mais, como quem descobre um livro de autoajuda. Quem se agarra à Bíblia daquele jeito, no voo da extradição, com o corpo curvado, busca algo no passado. A Bíblia é sua tentativa de retorno aos tempos de pureza e inocência.
Pizzolato tem penas a cumprir além das determinadas pela Justiça. Um provérbio poderá confrontá-lo, por exemplo, com o fardo da traição e da mentira. Foi ele quem apontou o ex-ministro Luiz Gushiken como mandante de delitos que cometeu no mensalão. Também deve ser confrontado com a infâmia de ter usado documentos de um irmão morto para fugir do Brasil.
Gushiken foi um dos poucos absolvidos do mensalão. Morreu em 2012, dois meses depois de saber que não havia nenhuma prova de seu envolvimento no caso Visanet. Mas Pizzolato já havia condenado Gushiken.
Quando fugiu, Pizzolato disse que tentava escapar de ameaças de morte. De quem, ninguém sabe. Roberto Jefferson é a figura mais repulsiva do mensalão. Pizzolato é a mais sombria, a mais trevosa.
Em julho de 2005, logo depois da descoberta do esquema que Delúbio e Marcos Valério haviam montado para o PT, entrevistei um consultor legislativo da Câmara, servidor de carreira do Congresso.
Magno Antonio Correa de Melo, que alguém me indicou como fonte, me disse: "Acho que uma pessoa a ser investigada é Henrique Pizzolato". O poderoso diretor de marketing do Banco do Brasil.
A entrevista, que cita Pizzolato várias vezes como alguém próximo de Valério e dos fundos de pensão estatais, foi publicada no dia 5 de julho de 2005. O nome de Pizzolato só iria aparecer em depoimentos de suspeitos a partir de setembro de 2005. Em novembro, ele depõe na CPI do Congresso e delata Gushiken.
Pizzolato tem motivos para estar atormentado. Seu confronto agora (ou não estaria lendo a Bíblia) é com mil demônios. Depois da clemência, Deus usa o rigor.