Há um traço em comum conectando Grêmio, Flamengo e Palmeiras na disputa pelo título brasileiro deste ano. A matemática manda incluir o Bragantino e o incluído também possui uma semelhança com os outros três candidatos. Todos eles têm jóquei.
Renato Portaluppi, Abel Ferreira e Tite são os comandantes dos times que estão ainda vivos na corrida do Brasileirão. Pedro Caixinha, caso o Bragantino seja considerado, entra na lista como um condutor competente da campanha surpreendente do clube médio do interior paulista que tem muito dinheiro e pouca torcida.
O Botafogo, que estou tirando do rol de pretendentes por que esfarelou no quesito emocional e esta falência influenciou nos outros quesitos do futebol de alta performance, tinha jóquei na figura de Luís Castro.
Uma proposta bilionária levou o português para o mundo árabe, o então líder folgado do campeonato manteve a estabilidade com Caçapa de interino e depois optou por outro português, Bruno Lage, para dar sequência a uma trajetória que parecia fadada a virar case de sucesso.
O restante da história é conhecido; Lage se atrapalhou de forma espetacular, o grupo de jogadores pediu ao dono do clube que efetivasse o auxiliar Lúcio Flávio, John Textor topou e a missão ficou maior do que parecia para o ex-meia do próprio Botafogo. Enquanto o clube carioca ia lidando com suas amarguras, os outros citados viviam também seus dramas.
O Palmeiras, por exemplo, que já perdera titulares importantes depois do último título brasileiro, ficou sem Dudu, machucado durante o campeonato. Houve um momento que os sinais apontavam para o fim do ciclo do Palmeiras vitorioso, mas Abel Ferreira não acreditava na debacle e ressurgiu com cartas na manga, a principal delas, Endrick.
O Flamengo, cuja diretoria dava a impressão de esforçar para pôr abaixo a temporada de tanto que errava, finalmente demitiu Sampaoli e convenceu Tite a trabalhar de imediato. Gestor de gente de primeira qualidade, o gaúcho chegou no Ninho do Urubu fazendo o simples; cumprimentou as pessoas.
Do roupeiro ao CEO, todos ouviram "bom dia, como vai". Excelente em recursos táticos, Tite trabalhou estabilidade junto aos jogadores. Ela não veio de pronto, como provam as derrotas para Grêmio e Santos. A seguir, vitórias sobre Fortaleza e a recente sobre o Palmeiras ativaram o alerta Flamengo. Com a qualidade disponível, se encaixar a tempo o Flamengo passa a ser o principal candidato ao título brasileiro.
Em discreta e firme caminhada, o Bragantino de Pedro Caixinha se posta candidato porque os números determinam. Sem peso a carregar porque sua torcida é pequena, o time de Bragança Paulista é administrado com competência e estratégia. A direção aposta em jogadores jovens, promissores e velozes.
Não há em campo a figura do condutor, do jogador que resolve sozinho quando o coletivo não funciona. Ou bem o Bragantino ganha porque a engrenagem funciona ou o resultado não vem num lampejo. Por duas vezes na fase recente do campeonato o Bragantino não cumpriu o dever de quem se candidata a título.
Perdeu em casa para o Atlético-MG e, no meio da semana passada, na Vila Belmiro para um São Paulo que conta os dias para o fim do ano. Como faz campanha surpreendente com vitórias inesperadas dentro e fora de casa, o Bragantino sonha legitimamente com vaga direta de Libertadores e, em menor escala, com o título inédito do Brasileirão.
Mobilizador
No caso que nos toca mais diretamente no futebol gaúcho, o fator Suárez é óbvio como colchão do crescimento gremista, cinco vitórias seguidas e pontuação de líder após a virada espetacular sobre o Botafogo no Rio de Janeiro. No entanto, seria injusto reduzir este Grêmio vitorioso à sua estrela maior de chuteiras. Renato Portaluppi conseguiu remobilizar seu elenco depois do rodião sofrido no Gre-Nal e derrotas em sequência.
Renasceu de um período de críticas legítimas sobre a ida intempestiva ao Rio sem explicar o passeio que levara no clássico. Desculpou-se com a torcida que o venera, atacou jornalista e, em especial, encontrou soluções para que sua equipe fosse capaz de servir o fora-de-série.
Suárez, como qualquer centroavante, não se basta. Precisa ser alimentado. Tendo um atacante como o uruguaio, é natural que um time jogue todo para ele, Renato não discutiu com a realidade e formatou uma equipe capaz de compensar as limitações de Suárez e potencializar suas impressionantes virtudes.
O resultado está na tabela e poderá ser visto na tarde do domingo numa Arena encantada e cheia. O Corinthians, ainda a perigo quanto a rebaixamento, virá mais fechado que cofre de banco para Porto Alegre. Suárez será marcado pelos zagueiros e pelas almas corintianas.
Tudo vai ser feito pelo visitante para que o capitão gremista não seja citado pelos narradores da partida. E, mais uma vez, Renato Portaluppi precisará encontrar soluções para que seu centroavante genial seja servido e resolva o jogo para o Grêmio.
Suárez é responsável por quase metade dos pontos conquistados até aqui. A expectativa de quem vai ao estádio neste fim de semana é que ele não faça menos do que vem fazendo. Exigência cansativa, é certo, mas que não deve assustar quem tem a trajetória de Suárez no futebol mundial.
O Inter em São Paulo
O polêmico treinador colorado precisa dar jeito de motivar seus jogadores para o que ainda resta de Brasileirão. Sua frase profundamente infeliz na coletiva após o empate com o Fluminense deve ter assustado. Eduardo Coudet falou da dificuldade de lidar com o que falta de campeonato sem um objetivo claro que motive seus jogadores.
Indefensável sob qualquer ponto de vista, já que são profissionais que vivem o sonho de infância e ganham gordos salários para fazerem o que mais gostam de fazer, jogar bola. Do outro lado, o Palmeiras desafiado a manter sua candidatura ao título precisa da vitória.
O Inter sequer atingiu pontuação ainda que garanta sua permanência na Série A, a vaga de Sul-Americana, obrigação mínima de um time que tem quatro mundialistas na escalação, não está assegurada pelos números.
O fim de ano tem cara de fim de feira, mas o próximo presidente conta com uma competição internacional a disputar em 2024. A jarra meio cheia para quem veste vermelho é a sequência recente cem por cento de aproveitamento longe do Beira-Rio. A meio vazia, o conjunto da obra nesta temporada que parece não ter fim.