Logo depois de confirmar a classificação às semifinais da Libertadores, Cortez esteve no estúdio do Globo Esporte. Foi assim na campanha do ano anterior, a Editoria de Esportes da RBS TV teve a sacada de repetir a dose para que os gremistas supersticiosos se sentissem contemplados. Conversei com o lateral-esquerdo do Grêmio enquanto esperávamos o programa começar. Ele é carismático, uma grande figura.
Entre suas melhores qualidades, está a passagem da linha da bola em alta velocidade. Se conseguir melhorar o acabamento, o que depende essencialmente de ter tempo para trabalhar fundamentos, Cortez será ainda mais importante do que já é no time do Renato. E não é pouco, não.
O defensor tem uma incrível noção de cobertura por dentro, já salvou o Grêmio algumas vezes surgindo por trás de Kannemann ou Geromel para evitar o pior. É no campo de frente, porém, que está sua importância maior.
Perguntei a Cortez se o momento de se projetar ao ataque parte da própria cabeça ou se há alguma combinação prévia com Renato Portaluppi. Algo do tipo "se vai numa, não vai na outra". Cortez me disse que é ele mesmo que toma a decisão. Quis saber que critério usa para saber se vai ou não vai além da linha divisória, sua resposta foi muito interessante. Cortez olha para trás antes de ir à frente. Se perceber que Geromel e Kannemann estão, nas suas palavras, encaixados para lhe dar cobertura, então o lateral se apresenta para Everton, com quem diz ter um entrosamento forte.
— Cebola, eu vou me apresentar de opção, se quiser me passa a bola tudo bem, se não vai para dentro e chuta no gol — afirma o lateral.
Entre risos, o jogador me disse que já aconteceu de ouvir de Renato Portaluppi "vai embora, vai embora!", liberação expressa para apoiar, e logo depois escutar de Kanemann o apelo "não vai, Cortez, não vai!". Aí, Cortez garante que vira para o parceiro de zaga e lhe diz:
— Não dá pra ficar, o homem mandou eu ir.
Cortez tem contrato até o fim do ano que vem, sua alegria de estar no Grêmio é evidente. Confia em Renato de olhos fechados. Do treinador, além de escapar de um pontapé brincalhão na goleada sobre o Tucumán quando esbarrou no comandante tentando voltar para o campo depois de uma dividida, ouviu a orientação de não marcar o atacante muito de perto para não dar chance de que um mais veloz e habilidoso aproveite esta proximidade para girar sobre ele e disparar. Segundo Cortez, melhor é marcar um tanto mais distante para dar tempo, com o arranque que tem, de chegar junto ao atacante se este tentar driblá-lo.
Cortez se impressionou com o jeito do River Plate de fazer gol no Independiente no Monumental de Núñez. Brinquei com ele que poderia apoiar em paz, já que o River prefere atacar por dentro. Não entrou na minha onda. Cortez pareceu muito compenetrado na missão de não dispersar atenção. Falou do grupo fechado, da cena em que Luan abriu mão de cobrar o pênalti sofrido por Jael para que o centroavante fizesse gol no seu retorno depois da artroscopia.
— Aqui não tem vaidade — disse, antes de o Globo Esporte começar e ele se revelar um ótimo futuro apresentador de televisão.