A indiferença do presidente Lula sobre o déficit público é cada dia mais visível, e fica difícil acreditar que sairá do papel a promessa dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) sobre uma revisão “ampla, geral e irrestrita” nos gastos. É possível, sim, que haja medidas para combate a fraudes, mas um simples pente-fino não será suficiente para equilibrar a balança de receitas e despesas.
Em entrevista ao portal UOL, Lula disse nesta quarta-feira (26) que “é preciso saber se há a necessidade de corte de custos”, e reforçou que não vai “levar em conta o nervosismo do mercado” na hora de tomar decisões.
Não é novidade para ninguém a oposição de ideias entre o presidente e economistas de mercado. Mas reduzir despesas do governo não pode ser visto como obediência à Faria Lima, e sim como compromisso com o futuro de um país que depende do equilíbrio das contas para retomar o ciclo de crescimento, e também para favorecer os mais pobres.
Enquanto insistir na ideia de que responsabilidade fiscal não pode ser conciliada com o cuidado dos mais vulneráveis, Lula poderá ampliar a instabilidade que hoje impede o Banco Central (BC) de cortar juros, gera insegurança em investidores nacionais e estrangeiros, além de prejudicar o próprio governo.
Embalado pela PEC da Transição, que abriu espaço no orçamento para o início de seu terceiro mandato, Lula quis retomar os principais programas dos primeiros governos, com forte investimento público e promessas de grandes obras. O plano é bonito, mas o cenário econômico é outro. Já passou da hora de o presidente escolher prioridades e ter coragem de dizer o que não poderá entregar.