A decisão do presidente Lula de criar um ministério para que o atual chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, coordene o trabalho do governo federal no Rio Grande do Sul reforça a politização das enchentes e deverá inviabilizar a harmonia na relação com o governador Eduardo Leite e vários prefeitos. No discurso, a iniciativa pode parecer apenas uma forma de agilizar a reconstrução do Estado. Mas o Planalto também quer fortalecer a imagem do ministro, que não esconde o desejo de concorrer a um cargo majoritário em 2026.
Seria injusto dizer que Lula é o único responsável por politizar a tragédia. Boa parte da oposição ao governo federal se encarrega há dias de espalhar notícias falsas e desqualificar o trabalho de servidores públicos que atuam de forma abnegada, independentemente de coloração política.
Em sua terceira viagem ao Rio Grande do Sul desde o início das fortes chuvas, Lula oficializará Pimenta no novo cargo na mesma ocasião em que vai anunciar um auxílio em dinheiro para os desabrigados.
Único gaúcho no primeiro escalão do governo, Pimenta já havia assumido informalmente o posto de autoridade federal. Agora, despachará no Estado para monitorar e coordenar as ações e os investimentos federais.
Para dar eficiência ao trabalho, o ministro terá de montar uma equipe com capacidade técnica e demonstrar habilidade em uma função complexa. Jornalista de formação, Pimenta foi vice-prefeito de Santa Maria, mas passou a maior parte da carreira como deputado, sem ligação direta com funções no Executivo.
A mudança de cargo divide opiniões entre aliados. Antes da oficialização, parlamentares gaúchos alertavam que seria ruim perder a interlocução diária com Lula no Planalto. Mas também há petistas com entendimento no sentido contrário, de que Lula demonstra prestígio do ministro quando o coloca para comandar as ações na maior tragédia climática da história do país.
É preciso levar em conta também que há um bom tempo Pimenta era alvo de críticas de colegas de Esplanada sobre a comunicação do governo. Lula resistia a qualquer mudança pela ligação de amizade entre os dois, além da fidelidade demonstrada por Pimenta durante a trajetória do presidente.
Entre os milhares de gaúchos que perderam tudo com as enchentes, ficará a expectativa de que a decisão de Lula mostre resultados práticos, e que a disputa política não inviabilize a reconstrução do Estado.
A única certeza até agora é que se na fase crítica de resgate e acolhimento de milhares de desabrigados não houve qualquer trégua na disputa política, não será agora que a briga por holofotes perderá fôlego.