As revelações feitas pelo hacker Walter Delgatti à CPI do 8 de Janeiro são graves e, se comprovadas, irão comprometer diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O hacker diz ter recebido do próprio ex-chefe do Executivo, em meio à campanha eleitoral, a promessa de que teria um indulto se cometesse qualquer ilegalidade, além de uma proposta para assumir a autoria de um grampo já realizado contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
Delgatti também disse ter participado de cinco reuniões, no Ministério da Defesa, em que ele e técnicos militares tentaram comprovar a fragilidade na segurança das urnas eletrônicas, com anuência do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e do então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes.
— Estou à disposição para qualquer acareação, ele (Bolsonaro) me deu carta branca para fazer qualquer coisa com as urnas eletrônicas, eu poderia fazer um ilícito e receberia indulto — disse à CPI nesta quinta-feira (17).
A estratégia do marqueteiro de Bolsonaro na campanha à reeleição, Duda Lima, é outro ponto do depoimento que joga luz a possíveis ilegalidades. Ele teria proposto ao hacker a invasão falsa a uma urna eletrônica para comprovar a tese de que era possível digitar o número de um candidato e aparecer outro.
— A segunda ideia era, no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna emprestada da OAB, acredito. E que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro — revelou Delgatti, pontuando que seria uma invasão fake.
Conhecido por ter sido o responsável por invadir os celulares de membros da Lava-Jato, com revelações que mancharam a imagem da operação, o hacker foi procurado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP). Segundo Delgatti, a ideia dela era mostrar à população que "um hacker ligado à esquerda" comprovava a fraude nas urnas, o que não deixaria margem para questionamentos.
O hacker está preso por ter invadido sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para a inclusão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Ele acusa Zambelli de ter encomendado a invasão.
Além de mostrar que o ex-presidente foi muito além de espalhar fake news contra o sistema eleitoral, as declarações do hacker apontam para uma série de ilegalidades e para uma tentativa de tumultuar as eleições a ponto de conseguir anulá-las.
O depoimento certamente terá desdobramentos. Além de solicitar acareações, a CPI convocará os citados pelo hacker, deverá propor acareações e ampliar a pressão sobre Bolsonaro.