
O juro básico perto de 15% vai, sim, encolher a economia, como advertem economistas e empresários. Mas o melhor, dadas as circunstâncias, é esperar que faça exatamente esse efeito. Com inflação acumulada em 12 meses de 5,06%, a alta de preços corrói o poder de compra dos salários e todos os brasileiros empobrecem.
Embora exista um debate legítimo sobre a capacidade de o juro alto controlar uma alta de preços cuja origem não é apenas aumento de demanda, esse fator tem peso na aceleração dos reajustes. E elevar o juro é o remédio amargo que o Banco Central (BC) receita para evitar uma doença mais grave: o descontrole da inflação.
Então, aumento do juro é, sim, um problema. Encarece o crédito, adia investimentos e ainda pesa no bolso do consumidor por ser custo, também repassado. Uma vez administrado, o melhor é que cumpra seu papel. Dificuldade maior seria se não funcionasse, ou seja, se nem apertando o crédito a inflação cedesse e o crescimento desacelerasse.
Nesse caso, o Brasil experimentaria um fenômeno econômico descrito por um palavrão: dominância fiscal. Para lembrar, é uma situação em que o desequilíbrio das contas públicas é tão grande que torna a política monetária – feita por meio do juro – sem efeito. Mais ainda, quando altas adotadas para frear a atividade econômica e, assim, tentar controlar a alta de preços, fazem efeito contrário: aumentam a inflação.
O Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu positivamente o mercado e negativamente o setor produtivo ao avisar que haverá nova alta do juro na reunião de maio. Na véspera, pesquisa feita no mercado financeiro mostrou que 58% dos entrevistados projetam recessão para 2025, ou seja, redução no PIB ao menos em dois trimestres consecutivos.
Nesta quinta-feira (20), day after da decisão, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, disse não descartar que o resultado do PIB do segundo trimestre seja negativo, assim como o terceiro. Estaria caracterizada uma recessão técnica. Pouco antes, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia dito no programa Bom Dia, Ministro, da EBC:
— Não acredito que você precisa de uma recessão para baixar a inflação no Brasil. Você consegue administrar a economia de maneira a crescer de forma sustentável, sem que a inflação saia do controle.
Também fez um mea culpa raro de ouvir de integrantes do governo:
— Temos que admitir que governos erram, muitas vezes. Governos erram. E, às vezes, a coisa descalibra um pouquinho. Se não for um erro grave, você consegue corrigir rapidamente.
O melhor cenário seria uma correção rápida da política fiscal, mas quase todo o universo econômico jogou a toalha e não aposta na possibilidade. Por isso, o melhor a esperar é que o juro alto ajude a "calibrar" o crescimento, como afirmou Haddad em uma das primeiras manifestações neste ano. O BC só tem de lembrar da máxima que a diferença entre remédio e veneno é a dosagem.