A rendição incondicional de Mark Zuckerberg a Donald Trump, com a mudança na política de checagem de Facebook, Instagram e Threads, não é a única. Uma reação em cadeia provoca mudanças em estratégias corporativas de empresas americanas, embora ainda falte uma semana para a posse do segundo mandato do ex-presidente.
Para lembrar, no caso da Meta de Zuckerberg, Trump disse que suas ameaças "provavelmente" haviam influenciado na decisão (cheque aqui). E o terceiro homem mais rico do mundo nem tentou disfarçar, chegou a citar a disposição de "trabalhar com o presidente Trump para nos opor ("push back" no original) aos governos de todo o mundo".
Aderindo a um movimento iniciado dias atrás por grandes bancos, uma das maiores gestoras de investimento do mundo, a BlackRock, que tem US$ 11 trilhões sob seus cuidados, anunciou sua saída de uma aliança climática comprometida com o Acordo de Paris – do qual se teme que Trump volte a retirar os EUA – e a descarbonização da economia.
Bancos gigantescos, como Citigroup, Bank of America, Wells Fargo, Goldman Sachs e Morgan Stanley, fizeram o mesmo entre a última semana de 2024 e as primeiras deste ano. Analistas interpretam esses sinais como tentativa de fugir do confronto com Trump, que toma posse no dia 20.
Em comum, essas poderosas corporações têm fragilidades perante o governo dos EUA. Em novembro, três das maiores gestoras de investimentos dos EUA – BlackRock, State Street e Vanguard – foram alvo de ações antitruste de Estados americanos governados por republicanos.
E isso ocorre quando os EUA enfrentam incêndios na Califórnia, desastre agravado pela mudança do clima que pode provocar o maior prejuízo de todos os tempos, estimado em até US$ 150 bilhões, com grandes prejuízos ao segmento de seguros.
Em texto publicado no LinkedIn, Fabio Alperowitch, criador de um fundo direcionado a investimentos em empresas éticas e responsáveis observa que, por sua posição no setor e história recente de defesa da incorporação dos riscos climáticos em decisões financeiras, a adesão da BlackRock "enfraquece o ecossistema de cooperação que ajudou a construir".
Lembra que, durante anos, a empresa posicionou o combate à crise do clima como questão central para a preservação de valor no longo prazo. Essa postura, reforça, "estabeleceu um padrão de conduta para o setor e incentivou outras instituições a assumirem compromissos semelhantes". Difícil pensar como será depois da posse.