Com o dólar no Brasil perto de seu recorde nominal histórico, de R$ 5,901, registrado em 13 de maio de 2020, o resultado da eleição nos Estados Unidos pode dar o "empurrãozinho" que faltava para avançar até os R$ 6. O dólar oficial, comercial, abriu com alta de 1,7%, para R$ 5,844. No entanto, foi se moderando e, no final da manhã, está em R$ 5,774. E na virada da manhã para a tarde, passou a recuar levemente. O que sim, chegou a R$ 6, foi o dólar turismo.
Na sexta-feira passada, a cotação fechou faltando apenas R$ 0,032 para quebrar a marca nominal e a escassos R$ 0,13 dos temidos R$ 6. A promessa de um pacote consistente voltou a aumentar essas distâncias - na terça, fechou em R$ 5,746, a R$ 0,137 do recorde e a R$ 0,238 dos R$ 6.
Durante a madrugada, a valorização de 2% do dólar ante o peso mexicano já dava tanto a pista do resultado quanto confirmava a projeção de que uma vitória republicana reforçaria a moeda americana ante as demais. Assim como foi o fortalecimento de Trump que ajudou o câmbio a se aproximar do recorde, na sexta-feira, deve voltar a pressionar, ainda mais sem anúncio do pacote de corte de gastos do governo Lula.
A leitura é de que a eleição de Trump, com pauta ainda mais protecionista do que a dos democratas, fortalecerá o dólar ante todas as demais moedas. O real será desvalorizado por efeito colateral.
É o protecionismo exacerbado - ele "prometeu" alíquotas de 60% para produtos chineses - que leva economistas a projetar que as políticas de Trump podem realimentar a inflação. Barreiras a produtos estrangeiros devem levar a preços mais altos dentro do país.
Claro, ainda é preciso saber o que era bravata e quais serão as políticas efetivas, mas o mercado vai reagir ao que conhece. Mas como a vitória deve ser acompanhada de maioria nas duas casas legislativas - além de domínio na Suprema Corte -, se quiser Trump poderá ser... ainda mais Trump.
Caso a inflação de fato suba nos EUA, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) terá de ser mais cauteloso na redução do juro. Isso significa que outros países terão mais dificuldade de reduzir suas taxas, porque os títulos públicos dos EUA seguirão rendendo bem.
O protecionismo de Trump também deve atingir as exportações brasileiras aos EUA, segundo maior comprador de produtos nacionais, só atrás da China.
Atualização 1: o dólar já se valoriza ante o iene japonês e o iuan chinês, além do peso mexicano. O rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos saltaram para a máxima em quatro meses.
Atualização 2: logo após a projeção de vitória de Trump, o dólar chegou ao maior valor ante uma cesta de moedas desde 2020.
Atualização 3: conforme projeções do economista Gerard DePippo, da Bloomberg, o PIB do México pode perder até 2 pontos percentuais até o fim do novo mandato de Trump. Mas como o Brasil é uma economia mais fechada, o impacto aqui seria menor: perda de 0,2% do PIB.
Atualização 4: apareceu um movimento, na Esplanada dos Ministérios, para adiar o anúncio do pacote de corte de gastos. Era só o que faltava. O economista André Perfeito define o brete para o governo Lula: " A vitória de Trump irá colocar muita pressão sobre o Palácio do Planalto para fazer cortes de gastos o mais rápido possível. A conta é simples: se Lula não estancar a piora da visão das contas públicas o dólar em alta irá destruir em 2024 as chances dele (ou o PT) ganhar em 2026". Simples assim. Se não for pelo racional econômico, que seja pela motivação política.
Esta nota está em atualização