Com o dólar pressionado por desconfiança fiscal no Brasil, a vitória de Donald Trump na eleição para a presidência dos Estados Unidos chegou a fazer o mercado abrir em alta de 1,7%, para R$ 5,844, mas a moeda americana no Brasil fechou na contramão dos mercados globais, com baixa de 1,26%, para R$ 5,674.
O que fez a diferença? A expectativa de anúncio do pacote de corte de gastos. Apesar de um ensaio de parte da Esplanada dos Ministérios para adiar a apresentação das medidas, usando até a eleição americana como argumento, o mercado não vê tempo a perder.
Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as medidas estão definidas, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer apresentar as medidas antes aos presidentes da Câmara e do Senado.
O economista André Perfeito define o brete para o governo Lula:
— A vitória de Trump coloca muita pressão sobre o Palácio do Planalto para fazer cortes de gastos o mais rápido possível. A conta é simples: se Lula não estancar a piora da visão das contas públicas o dólar em alta irá destruir em 2024 as chances em 2026.
A expectativa segurou o dólar hoje. Amanhã será outro dia. E a possibilidade de que a cotação no Brasil chegue a R$ 6 continua válida.
Por que o dólar tende a subir
A leitura é de que a eleição de Trump, com pauta ainda mais protecionista do que a dos democratas, fortalecerá o dólar ante todas as demais moedas. O real será desvalorizado por efeito colateral. É o protecionismo exacerbado - ele "prometeu" alíquotas de 60% para produtos chineses - que leva economistas a projetar que as políticas de Trump podem realimentar a inflação. Barreiras a produtos estrangeiros devem levar a preços mais altos dentro do país.
Claro, ainda é preciso saber o que era bravata e quais serão as políticas efetivas, mas o mercado vai reagir ao que conhece. Mas como a vitória deve ser acompanhada de maioria nas duas casas legislativas - além de domínio na Suprema Corte -, se quiser Trump poderá ser... ainda mais Trump.
Caso a inflação de fato suba nos EUA, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) terá de ser mais cauteloso na redução do juro. Isso significa que outros países terão mais dificuldade de reduzir suas taxas, porque os títulos públicos dos EUA seguirão rendendo bem. Nesta quarta-feira (6), o euro e o iene japonês perderam 1,5% ante o dólar. O franco suíço também se desvalorizou 1,3%.