Até para quem não esperava moderação do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, as primeiras indicações da equipe surpreenderam. Depois do fiasco da indicação seguida de desistência de Matt Gaetz para comandar o Departamento de Justiça (DoJ, equivalente ao ministério de mesmo nome no Brasil), há expectativa de escolha de Kevin Warsh para a Secretaria do Tesouro (equivalente ao Ministério da Fazenda no Brasil).
Gaetz renunciou depois que se soube que é acusado de participar de esquema de tráfico sexual. Talvez para Trump não fizesse a menor diferença, mas nos EUA indicações para a administração direta têm de passar pelo Senado. Mesmo dominado pelos republicanos, não aprovaria um nome com esse currículo.
Na área econômica, Trump tenta ser um pouco mais previsível - um pouco. Warsh foi diretor do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de 2006 a 2011. Antes, passou por uma função icônica: atuou no departamento de fusões e aquisições em uma das maiores casas financeiras americanas, a Morgan Stanley.
Comparado a outra escolhas de Trump, Warsh é muito mais ortodoxo - para o bem e para o mal. Não é do "pântano de Washington", mas integra outra elite de baixa popularidade no país, os "gananciosos de Wall Street".
Depois de chegar à vice-presidência do Morgan Stanley, Warsh atuou no governo de George W. Bush, que terminou sob as consequências do estouro da bolha imobiliária com auge em 2008. Foi assistente especial para a Presidência e como integrante do Conselho Nacional de Economia.
Na crise do subprime, cujo auge foi a quebra do Lehman Brothers por falta de socorro federal, o Morgan Stanley foi ajudado com US$ 100 bilhões, valor máximo que qualquer banco receberia, conforme a Bloomberg. No Fed à época, Warsh atuava como elo entre o BC dos EUA e Wall Street.
Dada sua trajetória, Warsch é visto até como um dos escassos contrapesos à sanha protecionista de Trump. Seria um defensor de política comercial mais aberta e estável. Será que emplaca?
Em tempo: o cargo para o qual Matt Gaetz foi indicado é "attorney-general", mal traduzido no Brasil para "procurador-geral". Aqui, a expressão "procurador" é associada ao papel de acusador em geral e ao Ministério Público em particular. Para gerar menos confusão, a coluna prefere indicar sua missão, que é chefiar o DoJ. E Trump já indicou a substituta: Pam Bondi, que já ocupou cargo semelhante na Flórida e é contrária à ampliação de direitos da comunidade LGBT+.